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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

O rendimento mínimo como base de vida para todos

Um tsunami gigantesco está a chegar e vai, de forma profunda, modificar o Mundo, e portanto as sociedades nas quais vivemos. 


O tsunami gigantesco é a incorporação da Inteligência Artificial em todos os segmentos das nossas Vidas 

Os utilizadores das redes sociais e de motores de busca, e estou a falar de quase todos nós, sabem que nestes a IA já está totalmente implementada e, está cada vez mais sofisticada. 

Ao nível empresarial a IA está a modificar os processos, e por consequência leva a rever as competências necessárias para tal ou tal função, porque esses novos processos obrigam a procurar um “colaborador aumentado”. O colaborador aumentado é o colaborador que utiliza para todas as suas tarefas o apoio das ferramentas que proporciona a IA. 

A ferramenta Copilot da Microsoft - https://www.microsoft.com/pt-pt/microsoft-copilot é um exemplo da gigantesca transformação geral à qual vamos assistir. 

E surgem perguntas 

Qual será o impacto da IA no emprego? Se os empregos mais atingidos pela onda de mutação tecnológica correspondem a tarefas simples, qual será a reconversão possível para os empregados? É evidente que - tendo em conta que os empregos em crescimento correspondem à função de developer informático, programador, especialista da semântica e da semiótica, analista especializado, etc. - muitas pessoas ficarão infelizmente à beira da estrada. 


A IA poderá apontar para um rendimento básico de vida para cada cidadão 

Na medida em que a IA generativa “produz” em função da informação que lhe é disponibilizada, não seria descabido pensar que à pergunta “Podes ajudar-me a definir uma solução que permita garantir a paz social, a unidade da sociedade, os lucros das organizações industriais e comerciais” a resposta seja “Para tal, é preciso estabelecer um rendimento social de vida, que cubra as despesas mínimas de alojamento, de alimentação e vestuário, para cada cidadão. Se uma pessoa quiser mais, e ter uma vida diferente dos outros, ela deverá trabalhar para ter um rendimento suplementar”. Terá de haver uma resposta à escassez de empregos nas grandes organizações empresariais. 

Este tema, que terá uma extrema relevância a médio/longo prazo, deveria ser abordado pelos políticos para evitar que as nossas Sociedades rebentem, mas de momento, enquanto em Portugal se preparam as eleições legislativas antecipadas, nenhum deles fala. 

No entanto, a organização das nossas Sociedades estando baseada no consumo, seria bom refletir como será feito esse consumo, quem produzirá, quem distribuirá, com que Recursos Humanos e em que condições de retribuição, por cada elo da cadeia. 


Nada pode parar um tsunami e nenhum medo poderá minimizar a sua força. Mas, de facto, nos próximos 10 anos vamos viver momentos extraordinários em termos de desafios sem comparação na nossa História, com, num mesmo espaço de tempo curto, a explosão da IA, a explosão do número de pessoas aposentadas, a explosão dos problemas ligados ao aquecimento climático, e a explosão dos movimentos migratórios. 


Boa reflexão e bom trabalho, 

O seu futuro está nas suas mãos! 









RB

 

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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Que futuro para os retalhistas e os grossistas independentes

A cabeça erguida, os olhos brilhantes que transparecem a alegria, a força e a energia, o peito para a frente, inchado de orgulho, e o passo firme, como o de um proprietário latifundiário visitando a sua Herdade ou de um general revistando as suas tropas, é assim que o dono de uma empresa de distribuição alimentar, quer grossista, quer retalhista se despediu de 2023. O portão de 2024 acabou de abrir, e aparecem dúvidas e o receio do fim do recreio. 


As causas das dúvidas prendem-se com as doenças do Mundo 

O Mundo está doente, e estamos provavelmente no fim da situação bipolar herdada do fim da segunda guerra mundial e da constituição dos blocos de Leste e de Oeste. A guerra fervilha em todos os continentes e parece que estamos de novo numa corrida ao armamento. É assustador, pois o que é produzido é produzido para ser utilizado. 

O Mundo está doente em termos de ambiente. Devemos produzir menos gás que provocam o efeito de estufa, mas precisamos de cada vez mais energia para fazer funcionar o nosso Mundo das comunicações. 

Não há dúvida que cada cidadão, cá em Portugal, mas também no resto da Europa e do Mundo, será tosquiado até à pele, para pagar as contas, por ser culpado de viver e de utilizar os produtos para os quais é aliciado sem tréguas pelo Marketing híper-afinado dos operadores do Mundo da Internet. 

E, sabemos que o consumidor que duvida gasta menos, ou no mínimo reflete mais onde é que o gasto do seu dinheiro rende mais. 


A Inteligência artificial – IA vai ser um quebra-cabeças para as pequenas organizações 

Muitas pessoas andaram na brincadeira a experimentar o ChatGPT ou o Bard. Para o Sr. Manel, retalhista de aldeia, isso dá para brincar meia hora e nada mais. Contrariamente aos grupos organizados da distribuição que utilizam a IA e desenvolvem ferramentas que permitem uma revolução na rapidez da execução das tarefas, e uma gestão afinadíssima das relações Insígnia Cliente, Insígnia Marca e Marca Cliente, o Sr. Manuel está sozinho, ou então é associado de uma insígnia ou de uma rede fraca, incapaz de assumir a transição entre hoje e amanhã, e fica sentado a ver passar os comboios. 


O tempo das vacas gordas está a chegar ao fim para os grossistas e os retalhistas independentes 

Daqui até ao fim da década, a estrutura demográfica de Portugal, como dos outros países do Bloco Ocidental, vai evoluir. Se não houver inversão da capacidade de Portugal a reter a sua juventude, reputada fora do país pela sua competência e o seu grau de formação, o valor das reformas deverá ser revisto, porque não haverá dinheiro suficiente para pagar as reformas no patamar atual. A tendência será para o empobrecimento da população, ou seja a maioria dos portuguese deverá aprender a viver com muito menos. A dureza da vida dos cidadãos vai, por ricochete, ter consequências fortes no arrasamento do retalho alimentar independente de pequena dimensão, e no desaparecimento dos grossistas independentes demasiado pequenos para resistir à hegemonia dos grossistas organizados em cadeias estruturadas e robustas. 

No fim da sequência bíblica dos sete anos de vacas gordas e dos sete anos de vacas magras, ficou a lei que perdurou segundo a qual um quinto dos rendimentos das terras do Egipto passou a pertencer ao Faraó. O mais forte, o mais organizado e o mais bem preparado, fica com tudo - “take it all”, e os independentes desaparecem ou agacham-se. 


Boa reflexão e bom trabalho, 

O seu futuro está nas suas mãos! 










R

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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Que sucesso?

Os factos são claros; nos últimos 4 anos, o setor da distribuição viveu um período de sonho. O alinhamento dos planetas foi extraordinário e o setor viveu um momento de bonança global (mesmo se existem diferenças nas performances observadas segundo as empresas), que teve a sua origem em conjunturas favoráveis e imprevistas, e nas suas bases, alheias às políticas marketing dos seus atores, quer grossistas, quer retalhistas.


Um alinhamento dos planetas extraordinário - 3 razões a sublinhar 

1-A chegada anual à idade da reforma de milhões de Europeus e de Norte-americanos. São pessoas que têm os meios de viajar. Elas reúnem capacidade financeira, capacidade médico-sanitária, e disponibilidade de tempo. 

2-A explosão do turismo ligada em parte ao que foi dito no parágrafo precedente, mas sobretudo à democratização das viagens. Viajar é fácil e barato, e escolher uma estadia através das plataformas tais como Airbnb e Booking.com é muito simples. 

3-Um aumento dos preços, desejado e orquestrado pelas instituições financeiras, no intuito de recuperar a quantidade extraordinária de dinheiro colocado nos mercados desenvolvidos, na altura da crise financeira, da Covid-19 e na ocasião da deflagração da guerra Russo-Ucraniana. 

Portanto, a patente dinâmica do mercado deve muito pouco aos “marketeers”


Os principais indicadores do setor da distribuição refletem esse bom momento (2022) 

Os proveitos operacionais conheceram um pico nítido; 

A rendibilidade económica das empresas e a rentabilidade financeira recuperaram níveis de há pelo menos 8 anos atrás. 

Simultaneamente, os custos de funcionamento foram controlados, e por exemplo os custos de mão-de-obra mantiveram-se quase-estáveis e portanto baixos. 


Os grupos do comércio organizado imersos no desenvolvimento 

Para os grupos do comércio organizado integrado ou associado, o momento é de preparação dos desenvolvimentos futuros, que incluem todos os departamentos; a Logística, o Marketing, o Comercial, os Recursos Humanos, a Gestão administrativa. 

A tecnologia, e nomeadamente a integração da IA Generativa, é o elemento transversal mais impactante nos próximos tempos, na perspetiva de melhorar os resultados, melhorando o “sourcing” e o “procurement”, a gestão do grupo no seu todo em geral e de cada ponto de venda em particular e, a relação com os consumidores e o laço criado com cada cliente. 

Os seus pontos de vendas serão o reflexo dos resultados dessas reflexões. 


Futuro com contraste para os retalhistas do comércio alimentar independente ou associados “soft” 

O futuro desses comerciantes dependerá: 

-Da localização da loja, que determina o grau da intensidade da concorrência e dos desafios a ultrapassar para fazer melhor do que as cadeias organizadas;

-Do posicionamento da loja, que orienta as opções em termos de política do sortido. Num grupo integrado, o posicionamento é linear e legível para qualquer consumidor;

-Do tamanho da loja que determina o comprimento possível do sortido. Os grupos integrados têm meios para abrir lojas urbanas de média superfície; 

-Da utilização de ferramentas tecnológicas que necessitam recursos e investimentos elevados e que obrigam a assegurar despesas de manutenção pesadas, difíceis de suportar quando se trata de apenas um ponto de venda. 

-De uma estrutura de rede com as competências necessárias para integrar as tecnologias sem as quais o futuro será complicado. 


A “cozinha de assemblagem” como futuro próximo 

Se o consumidor procurou sempre uma solução para diariamente alimentar-se ou alimentar a sua família, comprando produtos para elaborar pratos, hoje a solução alimentar do dia-a-dia passa pela compra de refeições prontas ou quási-prontas. Aliás um indicador dessa tendência é o sucesso da Uber Eats. 

Isso quer dizer que uma loja alimentar, cujo eixo principal é o abastecimento diário dos lares que compõem a sua zona de atuação, deve prever soluções alargadas de refeições prontas vendidas com atendimento ao cliente, em Livre serviço e congelados. 

O resto das compras será feito por arrastamento. 

Independentemente das condições económicas adversas e difíceis, difundidas na imprensa, estamos a viver um período incrível de transição do consumo. 

Boa reflexão e bom trabalho, 

O seu futuro está nas suas mãos! 









RB

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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

O burro e o gafanhoto

Um burro bem domado, sabe voltar para sua “casa”, sem ajuda de ninguém. É a consequência de uma aprendizagem lenta, mas sólida. A repetição das compras diárias na mesma loja tem o mesmo efeito no consumidor. Ele aprende o caminho de ida ao minimercado, que se torna pouco a pouco o seu minimercado. Longe de mim a ideia de gozar com o consumidor que somos, ou de desprezar o burro, que segundo o que se diz é superiormente inteligente. 


O efeito burro é uma bênção para o comerciante 

É comum ouvir pessoas do ramo do comércio falar de “fazer a casa”. A metáfora permite perceber 2 pontos fundamentais de sucesso de uma loja: 

1-Ela deve ser um sítio que atrai as pessoas que vivem à sua volta; 

2-Ela deve apresentar uma organização da placa de venda que potencializa o escoamento. O escoamento sendo obviamente o sine qua non da faturação e da expetativa de benefícios. 

À lógica da atração, o efeito burro acresce a repetição, o ritmo, a frequência. Quanto maior for a atração do Ponto de Venda, conjugada simultaneamente com um forte efeito burro, mais forte e sólida será a base da faturação. 


Maltratar o efeito burro transforma o consumidor em gafanhoto 

O gafanhoto salta por aqui e por ali, e não se deixa facilmente apanhar. Tal e qual o consumidor, que maltratado por aqui salta para ali. 

A questão é que o setor do retalho alimentar está repleto de Insígnias de fórmulas comerciais e de formatos diferentes, que permitem que o efeito gafanhoto ganhe asas. Pois é, uma insígnia da grande distribuição nunca está isolada; onde houver uma, há as outras, às quais se juntam os comerciantes independentes do retalho alimentar. 

O consumidor maltratado, mal recebido, mal atendido nunca teve tanta facilidade de bater a porta duma loja, porque sabe que a 1 minuto de carro há uma outra loja do mesmo. O consumidor se tornou um potencial "gafanhoto". 


Do efeito gafanhoto ao efeito burro 

O observador pode notar que a comunicação da Mercadona, nova insígnia no mercado Português, tem como consequência a transformação dos clientes das insígnias instaladas há muito tempo em gafanhotos. 

A comunicação faz-se de forma quase natural nas redes sociais, mas também de boca-a-orelha, dando vontade de ir ver, apenas um ponto bem preciso; um salto de gafanhoto como premissa de um efeito burro futuro.

Daí algumas interrogações sobre as ações de gestão do PdV 

Vemos spots de publicidade das insígnias Pingo Doce e Continente na televisão para difundir, realçar, embelezar, a qualidade dos seus take-away. Visivelmente, as publicidades estão bem conseguidas e podem dar vontade de experimentar pelo menos uma vez. 

Na sequência do que defendi supra, diria que esses spots publicitários têm a ver com preservar o efeito burro, ou seja levar os clientes habituais a continuar a frequentar diariamente as lojas dessas insígnias. E falando do take-away, o efeito burro é claríssimo, pois falamos de uma potencial captação de deslocação diária. 

Mas, quando vejo o take-away dentro de certos supermercados e hipermercados, perco rapidamente o apetite, e penso que é exatamente assim que certas insígnias levam clientes que respondem ao “efeito burro” a responderem ao “efeito gafanhoto”. 

Eu podia dar mais exemplos relativos a várias insígnias, em relação a várias seções, sem dinâmica, mal organizadas, ou à organização fraca das lojas e à ausência de circuito de deslocação dos clientes estudado, para facilitar a sua leitura da oferta, mas o meu objetivo aqui não é este. 


Se nada mudar nas insígnias instaladas há muito tempo em Portugal, é provável que a Mercadona transforme os clientes “efeito gafanhoto” em clientes “efeito burro”. Há momentos de báscula em que o custo da recuperação do mercado é colossal e, além de valores avultados em dinheiro, envolve muito tempo, perda de credibilidade e - pior ainda - perda de legitimidade. 


Boa reflexão e bom trabalho, 

O seu futuro está nas suas mãos!









RB

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domingo, 24 de setembro de 2023

O valor dos números

Portugal está a viver momentos de grande felicidade, pois tornou-se num país onde toda a gente quer vir, para partilhar o estilo de vida e a felicidade à moda Portuguesa. Também, como qualquer outro país atualmente, Portugal tem de lidar com uma inflação brutal que abala segmentos inteiros da sociedade. Tudo isso tem um impacto no setor da distribuição alimentar, quer grossista quer retalhista. No setor dos independentes do retalho alimentar, os otimistas podem achar que está tudo a correr bem, mas… 


Há quem diga que a faturação está a crescer bem 

Pois, de Norte a Sul de Portugal o momento é de grande bonança. Todas as regiões beneficiam do turismo. Aliás, qual é o sítio de Portugal onde não há casas arrendadas em “Alojamento Local”? Percorrendo a EN2 podemos ver que mesmo em sítios outrora esquecidos ou em estado de morte lenta aparecem casitas típicas renovadas, destinadas ao arrendamento de tipo “short rental”. 

Julgando pela quantidade de nómadas digitais, no Algarve, nas Regiões de Lisboa e do Porto entre outras, esses devem ter elegido Portugal como sendo um destino excelente para passar longos meses. São boas notícias, que justificam mais faturação para o setor do retalho no seu conjunto. 


Há quem diga que uma boa faturação indica uma boa saúde do comércio 

Depende do histórico das vendas, e da dinâmica da região. 

No caso do histórico das vendas 

Se as vendas do ano em curso são realmente superiores às vendas do ano anterior acrescentado o impacto da inflação, podemos pensar que a atividade está a correr bem. 

Assim, se de forma geral a inflação for de 10% e que o comerciante regista uma faturação com um crescimento de 20%, ele pode estar satisfeito. Mas claramente se a inflação for de 20% e que o aumento da faturação for de 20% não há satisfação a ter. 

Por exemplo, no caso das massas MDD (Marca Do Distribuidor) para as quais, entre o início de 2022 e o fim de 2022, o PVP (Preço de Venda ao Público) passou de 0,39€/0,49€ a 0,79€/0,89€, duplicar a faturação não é nada satisfatório. Aliás neste tipo de situações, em vez de analisar as vendas a partir da faturação, seria mais sensato analisá-las a partir do escoamento em quantidade. 


No caso da dinâmica da região 

Estamos a assistir a uma tripla-explosão em termos de frequentação estrangeira; 

1-a explosão do turismo, ou seja das pessoas de passagem; 

2-a explosão das estadias de média duração, no caso dos nómadas digitais; 

3-a explosão dos novos sedentários, compostos por reformados que vêm para Portugal para passar os próximos anos e também - cada vez mais - por famílias com crianças na casa dos 8/10 anos. 

Assim, se a faturação de um minimercado ou de um supermercado independente cresce acima do aumento dos rendimentos disponíveis da zona ou da região, esses comerciantes podem ficar satisfeitos, caso contrário podem (devem) pensar que não captaram essa dinâmica e que os outros “players” estão a levar a melhor. 

A terrível utilização do K na gestão clássica do PVP 

Além dos pontos abordados supra, os comerciantes independentes devem enfrentar a necessária redefinição da forma de calcular os PVP. 

De forma clássica, quase cultural, os comerciantes independentes aplicam um coeficiente (K) ao preço de compra para obter o PVP – Preço de Venda ao Público. Para alguns, o coeficiente integra o IVA e para outros é preciso utilizar o coeficiente de IVA para obter o PVP. 

É assim que podemos ver em minimercados ou supermercados preços assustadores; por exemplos massas MDD normais com PVP de 1,20€ até 1,60€. Obviamente, quanto maior for o preço de compra, mais o mau uso do coeficiente multiplicador propulsa o PVP para um nível estratosférico e insensato em relação ao mercado. 

A sensação de maior ganho pode ser de curta duração e a perda de clientes duradoura. 


Neste momento extraordinário que estamos a viver, é mesmo muito, muito cedo para fazer a festa e regozijar-se. Bons números podem esconder situações futuras extremamente desastrosas. 


Boa reflexão e bom trabalho, 

O seu futuro está nas suas mãos! 









RB


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domingo, 3 de setembro de 2023

A evaporação do escoamento

O mercado é um lugar sempre em movimento, um movimento que perfaz, melhora, apaga o que existia ou inova em função de evoluções tecnológicas e técnicas, e da evolução das expetativas dos consumidores. 

As mudanças são normais, inelutáveis e, no contexto da distribuição alimentar, deixar de as acompanhar torna as Empresas e os Recursos Humanos que as compõem meros espetadores da evaporação do escoamento. 


O mercado é o mesmo para todos 

Num dado espaço geográfico o mercado é igual para todos. Cada dia milhões de pessoas têm as mesmas necessidades e precisam de comer, beber, proteger-se, divertir-se de uma forma semelhante, mesmo se cada pessoa fizer uma escolha um pouco diferente em função das suas motivações do momento. 

Os ingredientes são conhecidos, reais e quase palpáveis quando olhamos para o mercado geral com cuidado e sem preconceitos. 


Os preconceitos são a antecâmara da negação da realidade 

Ter receios do que não conhecemos é uma marca de saúde mental. Sem receios seríamos levados a tomar decisões extremas e perigosas. 

Os preconceitos não são receios, são elementos perturbadores até à castração das nossas decisões. 

Os preconceitos bloqueiam a ação logo na sua origem, e não dão espaço à experimentação de uma ideia, fórmula, ou modelo. 

Os preconceitos fazem de ontem o sítio mais confortável do mundo, definem os dogmas que justificam normas imutáveis. Ai de quem se atreva a ter ideias novas! 


Mas a realidade é que a mudança tem uma força própria e constante 

Nos anos 80 do seculo passado, Portugal era considerado um país demasiado pobre para a fórmula Hipermercado. Quem acreditava no sucesso dos hipermercados Continente? O Sr. Belmiro Azevedo deve ter sido um dos poucos a acreditar, cá em Portugal e lá em França. 

No início dos anos 90, dizia-se que Portugal não era um país para uma Insígnia como Intermarché. Lembro-me bem dos “ tu vais ver que Intermarché vai fracassar e sair de Portugal” ou “ Aqui, nesta cidade, todos são meus clientes, ninguém irá ao Intermarché”. Meses depois da abertura de um Intermarché eu recebia telefonemas de comerciantes desnorteados, quase Knock-Out, a perguntararem o que deviam fazer…para recuperar os 80% da queda registada! 

Os Lidl, Aldi, Coviran e Mercadona podem ter tido momentos difíceis de constituição e de adaptação, mas cada insígnia conseguiu fazer o seu espaço no mercado. 

Se alguns conseguiram ganhar o lugar no mercado outros perderam o seu, como se tivesse havido uma evaporação do escoamento. 


A evaporação do escoamento é apenas setorial 

Claramente, a evaporação do escoamento é um facto para o setor dos grossistas independentes pois os consumidores continuam a comprar, mas em lojas de grupos ou de cadeias organizadas. 

Os grupos de distribuição modernos, do comércio integrado e/ou associado que possuem as suas próprias estruturas de logística, foram e são os maiores fatores da evaporação do escoamento dos grossistas. 

Uma outra fonte de evaporação do escoamento é a lealdade “elástica” dos retalhistas independentes, que têm 3, 4 ou mais fornecedores grossistas. A ideia do retalhista é a busca do preço mais baixo, e às vezes irrisoriamente mais baixo, deixando os grossistas com o quebra-cabeças do custo de distribuição para resolver. 

Para evitar a evaporação do escoamento é necessária uma adaptação constante ao mercado e aos desafios que surgem, através de ideias, conceitos, fórmulas, formas novas e diferentes. 

A nova plataforma Hiper Retail é uma ferramenta que pode permitir às organizações chegar de forma diferente às lojas de venda a retalho, e/ou de provocar vendas complementares, e/ou de controlar a pressão da concorrência em determinados territórios. 

O problema maior não é ver passar o comboio mas sim de perceber de repente que estamos no cais enquanto os outros já estão instalados nos melhores lugares. 

E, o que segue à evaporação é a aridificação. 


Boa reflexão e bom trabalho, 

O seu futuro está nas suas mãos! 

RB


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quinta-feira, 24 de agosto de 2023

O caminho tão estreito dos grossistas tradicionais do setor alimentar

Nos centros urbanos, a loja ao lado onde fazemos as compras do dia-a-dia já não é a mercearia ou o minimercado do Sr. Manel ou da Dª Anabela. Não, são supermercados que pertencem a insígnias de grupos de distribuição de grande notoriedade. Os bairristas fazem as suas compras no bairro, perto de casa, como se tivesse sido sempre assim, no Continente, no Pingo Doce, na Auchan, no Lidl, no Intermarché, na Coviran. O rosto da distribuição em Portugal mudou e mudou muito, o retalho mudou e os grossistas do setor alimentar vão ter de mudar. 


O passado fica para a história, e apenas para a história 

As mudanças acontecem e fazem parte do andamento natural e inelutável do Mundo. O retalho alimentar mudou porque os consumidores estavam prontos a abraçar qualquer novidade que lhe permitisse fazer as suas compras mais facilmente, mais rapidamente, onde houvesse mais escolha e onde fosse possível passear à tarde de um sábado ou de um domingo. 

Nos anos 90 do século passado, muitos retalhistas acreditavam que os governantes não iam permitir o desenvolvimento de tantos hipermercados e de supermercados. E, muitos retalhistas situados em centro urbanos pensavam que “esses grupos” não tinham o conhecimento necessário para gerir lojas urbanas, nem para gerir a “difícil” sazonalidade algarvia. 

A história é assim feita de “dinossauros” que deixaram algures algumas pegadas e nada mais. 


A evolução do setor da distribuição deixou os grossistas no lugar dos “dinossauros”

A falar muitas vezes dos retalhistas que tiveram de evoluir ou de desaparecer, esquecemo-nos do segmento grossista e nomeadamente do setor grossista que durante tantos anos alimentou a ligação entre produtores, fornecedores e uma multidão de retalhistas dispersos, atomizados em todo o território Português. 

A drástica diminuição do número de retalhistas foi prejudicial à atividade grossista. Ficaram os mais sólidos, os grossistas que tinham adquirido uma grande notoriedade; mas para os sobreviventes a festa acabou há muitos anos, e no futuro não se espera bonança. 

Por vezes, ouve-se o lamento de um dono de cash que se lembra que se tivesse vendido o seu cash há algum tempo atrás teria ficado rico para o resto da vida, mas que hoje não só não pode vendê-lo, como sabe que o fim será no melhor dos casos o fecho do armazém e, no pior, a falência. 


Então, a única solução é desaparecer? 

Não necessariamente. O que desaparece é o que não se adapta. Existem caminhos que permitem encontrar uma saída. Nos 400 posts que escrevi na segunda década deste século existem pistas e orientações. 

As soluções possíveis são organizacionais, jurídicas, comerciais, de marketing, logísticas, tecnológicas, e humanas. 

Muitas coisas têm de ser postas na mesa e analisadas, descascadas, para fazer um novo modelo coerente com a atualidade. 


E como diz o ditado popular: A esperança é a última a morrer 

Num período crítico, a Makro Portugal soube encontrar o seu caminho, deixando de lado o retalho alimentar para se concentrar nas soluções que facilitam a vida dos profissionais da restauração, hotelaria e derivados. 

As insígnias líderes dos segmentos dos hipermercados e supermercados seguirão as expectativas dos consumidores que precisam de soluções alimentares, do tipo Pronto-a-comer ou pré-preparados. Aliás a Mercadona, está, segundo parece, a atrair bastantes clientes para o seu Pronto-a-comer. Daí as reações marketing da Continente e do Pingo Doce, orientadas nesse sentido. 

A plataforma Hiper Retail, start up em evolução, propõe um novo canal logístico que permite aos grossistas aumentarem as suas vendas, consolidando a sua posição nos seus territórios de base, e/ou buscando novos escoamentos nos territórios dos seus concorrentes. 

Para os grossistas, o esquema atual de “todos juntos” numa central é uma solução rota e sem fim honroso. O “todos juntos” deveria ser repensado. 


A consolidação e a concentração do setor da distribuição em Portugal, estão a estreitar o caminho de atuação dos grossistas tradicionais. 

Não são os anos bons meramente conjunturais, provocados pela Covid-19, que vão alterar qualquer coisa ao crescente empobrecimento do setor. 

Como se regozijar de uma situação totalmente artificial, e portanto independente do bom trabalho de seja quem for? Um golpe é um golpe, só acontece uma vez. 

Proclamar “somos 40% mais baratos” não é uma afirmação credível, e perder a credibilidade é provavelmente o pior que pode acontecer. 


Boa reflexão e bom trabalho, 

O seu futuro está nas suas mãos!









RB


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