Sexta-feira dia 04 de Outubro fui informado
no início da manhã que tinha falecido o Sr. António Nunes que dirigiu, durante décadas,
a cooperativa Soprei, uma empresa grossista situada na Sertã. Conheci o António
durante uns 20 anos e, em homenagem, tinha de lhe consagrar este post.
António
Nunes fazia parte do meu universo profissional e, sempre tivemos relações diretas
e de grande franqueza. Vou portanto falar dele de forma direta e com o carinho
que ele merece.
António
era um trabalhador incansável e todas as pessoas com quem tinha relações de
trabalho conheciam a sua grande capacidade de trabalho, prolongando muitas
vezes o seu dia de labor além das 24h. Eu sabia que, quando não conseguia falar
com ele durante o dia, eu o podia apanhar por volta das 24h, ainda no
escritório a trabalhar.
António
era próximo dos clientes que fossem clientes diretos da sua empresa de
contabilidade ou clientes da Soprei, a cooperativa da qual era o diretor. No
decorrer dos últimos 20 anos, devo ter visitado com o António, e muitas vezes
na companhia da Carla Farinha que era a responsável das relações com os
retalhistas, a maior parte das lojas clientes do cash Soprei. Todas as ações
eram refletidas e calibradas para levar a cada sócio da cooperativa a melhor
formação, o melhor acompanhamento técnico. Perdi a conta de todas as sessões de
formação pós-laboral que dei aos clientes da Soprei, para que a minha estadia
fosse totalmente aproveitada. Ele era totalmente empenhado no sucesso dos seus
sócios e dos retalhistas que confiavam na Soprei. Lembro-me dos ciclos de
formação que foram organizados com o António, num ritmo de 2 dias de formação
por mês durante 6 meses seguidos.
António
tinha adquirido um certo olhar crítico, mas sempre equilibrado, sobre a
sociedade e as pessoas, um olhar baseado numa grande experiência de vida, quer
pessoal quer profissional. Ele tinha ideias afirmadas mas como tinha uma
tendência democrática, era agradável falar com ele e partilhar ideias, mesmo
quando as nossas opiniões não eram as mesmas ou até completamente divergentes.
Conheci o
António no último terço da vida dele mas, percebi que a pessoa que mais contou
para ele foi a sua mãe. No decorrer das nossas conversas, regularmente quanto
se falava da sociedade ou das relações entre as pessoas, ele dizia “ Sabes
Richard, a minha mãe dizia…”, o que queria dizer “ A minha mãe dizia-me e eu verifiquei
que ela tinha razão”. Penso que tinha um verdadeiro grande carinho pela mãe
dele e que procurou prolongar a capacidade que ela tinha de observar em silêncio
a sociedade que os rodeava para tirar ilações.
Por fim,
num momento em que o aparelho comercial está a mudar em profundidade, queria fazer
relembrar e sublinhar que o Sr. António Nunes, de par com o Sr. Carlos Marçal
(Presidente da cooperativa Soprei) conseguiram evitar que a Soprei desaparecesse,
como desapareceram todas as empresas grossistas portuguesas cooperativistas. Até
ao último momento, ele dirigiu a Soprei com a preocupação primeira de bem
servir os sócios que depositavam nele a sua confiança.
Sertã, uma pequena cidade
longe das grandes cidades, longe de Lisboa, vai se despedir de um Senhor que,
longe do tumulto das grandes cidades e do plano nacional, dedicou a sua vida à
sua comunidade, aos seus sócios e aos seus colaboradores. Não tenho dificuldades
em acreditar que a sua ausência vai ser ressentida por muitas pessoas e
nomeadamente por muitos sócios, com os quais percorreu uns 40 anos de mudanças
profundas da sociedade e do aparelho comercial. Por fim, diria que a melhor
homenagem ao António Nunes será de prosseguir a sua obra, ou seja continuar a
fazer da Soprei uma empresa grossista sustentável e plenamente ao serviço dos
seus sócios.
Caro António,
Eu me lembrarei de ti com respeito e carinho.
RB