As mesmas causas tendo os mesmos efeitos, é difícil abstrair-se
dos acontecimentos passados quando somos confrontados com situações que parecem
partilhar pontos semelhantes.
Flashback sobre os grupos de distribuição
líderes na região de Lisboa nos anos 90
No início
dos anos 90, quando se falava da distribuição alimentar em Lisboa, era
impossível passar ao lado de insígnias tais como Europa, Novo Mundo, Selecção, AC
Santos, Sampedro, Polisuper.
Eram
insígnias desenvolvidas por empreendedores que tinham percebido a evolução do
mercado e a explosão do consumo em Portugal. Do nada, esses empreendedores
construíram, graça à adesão dos consumidores da altura, pequenas cadeias de
lojas indo da loja de bairro de pequena dimensão à loja de tipo hipermercado.
Não é exagero dizer que mereceram o sucesso que elas alcançaram.
Uma geração depois, a constatação é
inequívoca
Estas
insígnias desapareceram do radar da distribuição. As poucas lojas que
sobreviveram a esse passado glorioso voltaram ao estado de mercearia de bairro. As ilações
que podemos tirar são indiscutíveis:
- Estas
pequenas insígnias foram construídas e desenvolvidas por empreendedores de
forte personalidade, que se esqueceram de incutir o “bicho” empresarial aos
seus filhos;
- Os
criadores dessas insígnias, por terem uma forte personalidade, não
desenvolveram uma equipa de quadros de bom nível, capazes de projetar as
insígnias num futuro que recusasse a estagnação;
- O nível
técnico dos colaboradores era bastante fraco pois a respetiva tarefa era
basicamente a reposição mecânica das mercadorias;
- A promoção interna era quase inexistente;
- A promoção interna era quase inexistente;
- As
decisões eram sempre verticais, fosse qual fosse o assunto;
- O nível
de investimento era inadequado em relação à agressividade do mercado. Lojas que
deviam fechar ficavam abertas por sentimentalismo e, a prospeção do mercado
para abrir novas lojas não fazia parte de um programa estratégico definido;
- O layout
das lojas respondia aos desejos dos dirigentes e não às expetativas dos
consumidores. Por arrastamento, os equipamentos obsoletos não eram substituídos
e as lojas não eram reorganizadas para serem adaptadas às novas realidades do
mercado;
- Os investimentos
foram aquém do necessário nas ferramentas da informática de gestão, provocando
uma gestão rudimentar, caótica e insuficiente da informação interna, como por
exemplo das estatísticas de venda por universo, categoria, segmento, e por
referências.
Podia ter sido diferente?
Nos anos
2000, O Engenheiro João Vieira Lopes, Diretor Geral da central de compras
UniMark, pediu-me, no quadro do apoio técnico prestado pela central aos seus
associados, de me debruçar sobre as ações possíveis par fomentar uma nova dinâmica
das insígnias do retalho alimentar de Lisboa que faziam parte da UniMark. A ideia que
defendi foi juntar todas as insígnias num mesmo processo logístico, de maneira
a aliviar os custos avultados que cada insígnia devia suportar. Uma
racionalização da logística deveria também ter dado a possibilidade de
reorganizar o comercial e o marketing das insígnias. Se as ideias que propus
foram aceites por cada uma das direções de insígnia, em reunião distintas, nada
foi feito por razões ligadas à personalidade dos dirigentes, à cultura
castradora de cada insígnia e ao medo de perder uma parcela de protagonismo.
O
resultado foi claríssimo; nada foi feito e as insígnias desapareceram todas!
O tamanho crítico para as empresas não é uma mera quimera. Num mercado moderno e hiperconcorrencial, que exige uma
adaptação constante às evoluções cada vez mais rápidas e que obrigam a
investimentos fortes, ficar preso a condições do passado, recusar a integração
de meios por razões de protagonismo, virar as costas à possibilidade de
libertar meios financeiros para tornar perene e até expandir o negócio, parece-me
muitíssimo arriscado. Se as mesmas causas tiverem os
mesmos efeitos, os receios são legítimos!
Boa
reflexão e bom trabalho,
O seu sucesso está nas suas mãos!
RB
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