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domingo, 27 de maio de 2018

Se as mesmas causas tiverem os mesmos efeitos, os receios são legítimos!


As mesmas causas tendo os mesmos efeitos, é difícil abstrair-se dos acontecimentos passados quando somos confrontados com situações que parecem partilhar pontos semelhantes. 

Flashback sobre os grupos de distribuição líderes na região de Lisboa nos anos 90 
No início dos anos 90, quando se falava da distribuição alimentar em Lisboa, era impossível passar ao lado de insígnias tais como Europa, Novo Mundo, Selecção, AC Santos, Sampedro, Polisuper. 
Eram insígnias desenvolvidas por empreendedores que tinham percebido a evolução do mercado e a explosão do consumo em Portugal. Do nada, esses empreendedores construíram, graça à adesão dos consumidores da altura, pequenas cadeias de lojas indo da loja de bairro de pequena dimensão à loja de tipo hipermercado. Não é exagero dizer que mereceram o sucesso que elas alcançaram. 

Uma geração depois, a constatação é inequívoca 
Estas insígnias desapareceram do radar da distribuição. As poucas lojas que sobreviveram a esse passado glorioso voltaram ao estado de mercearia de bairro. As ilações que podemos tirar são indiscutíveis: 
- Estas pequenas insígnias foram construídas e desenvolvidas por empreendedores de forte personalidade, que se esqueceram de incutir o “bicho” empresarial aos seus filhos; 
- Os criadores dessas insígnias, por terem uma forte personalidade, não desenvolveram uma equipa de quadros de bom nível, capazes de projetar as insígnias num futuro que recusasse a estagnação; 
- O nível técnico dos colaboradores era bastante fraco pois a respetiva tarefa era basicamente a reposição mecânica das mercadorias; 
- A promoção interna era quase inexistente; 
- As decisões eram sempre verticais, fosse qual fosse o assunto; 
- O nível de investimento era inadequado em relação à agressividade do mercado. Lojas que deviam fechar ficavam abertas por sentimentalismo e, a prospeção do mercado para abrir novas lojas não fazia parte de um programa estratégico definido; 
- O layout das lojas respondia aos desejos dos dirigentes e não às expetativas dos consumidores. Por arrastamento, os equipamentos obsoletos não eram substituídos e as lojas não eram reorganizadas para serem adaptadas às novas realidades do mercado; 
- Os investimentos foram aquém do necessário nas ferramentas da informática de gestão, provocando uma gestão rudimentar, caótica e insuficiente da informação interna, como por exemplo das estatísticas de venda por universo, categoria, segmento, e por referências. 

Podia ter sido diferente? 
Nos anos 2000, O Engenheiro João Vieira Lopes, Diretor Geral da central de compras UniMark, pediu-me, no quadro do apoio técnico prestado pela central aos seus associados, de me debruçar sobre as ações possíveis par fomentar uma nova dinâmica das insígnias do retalho alimentar de Lisboa que faziam parte da UniMark. A ideia que defendi foi juntar todas as insígnias num mesmo processo logístico, de maneira a aliviar os custos avultados que cada insígnia devia suportar. Uma racionalização da logística deveria também ter dado a possibilidade de reorganizar o comercial e o marketing das insígnias. Se as ideias que propus foram aceites por cada uma das direções de insígnia, em reunião distintas, nada foi feito por razões ligadas à personalidade dos dirigentes, à cultura castradora de cada insígnia e ao medo de perder uma parcela de protagonismo. 
O resultado foi claríssimo; nada foi feito e as insígnias desapareceram todas!
O tamanho crítico para as empresas não é uma mera quimera. Num mercado moderno e hiperconcorrencial, que exige uma adaptação constante às evoluções cada vez mais rápidas e que obrigam a investimentos fortes, ficar preso a condições do passado, recusar a integração de meios por razões de protagonismo, virar as costas à possibilidade de libertar meios financeiros para tornar perene e até expandir o negócio, parece-me muitíssimo arriscado. Se as mesmas causas tiverem os mesmos efeitos, os receios são legítimos! 

Boa reflexão e bom trabalho, 
O seu sucesso está nas suas mãos! 
RB






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