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domingo, 14 de abril de 2019

Os mais fracos estão condenados a desaparecer


Em Portugal, a próxima onda de choque em termos de distribuição alimentar está em curso, e há poucas hipóteses de a evitar. Este sismo terá mais a ver com a obsolescência de uma franja do aparelho comercial do que com a dinâmica dos líderes atuais. 

A evolução dá primazia aos mais fortes, mais dinâmicos e mais resistentes 
A abertura de lojas com a insígnia Mercadona, o desenvolvimento contínuo das vendas on-line, a penetração - como nunca visto - dos centros urbanos pelos líderes da distribuição são elementos que permitem dizer que vamos viver momentos de grande dinâmica. Não vai haver nem tréguas nem status quo, haverá, se calhar e com o tempo, certos ajustes, absorções, porque a dinâmica é inerente à sobrevivência! 
Porque a sociedade está em constante evolução, nos seus desejos, nas suas expetativas, nos seus comportamentos, apenas poderão vencer ou continuar a existir aqueles que forem mais propensos à adaptação. É um exercício complicado porque se trata de ter todos os dias a vontade e a força de pôr em causa o que se passou ontem e, de prever as grandes linhas que definem o futuro e as condições para continuar em jogo. 

Os mais fracos estão condenados a desaparecer 
A próxima grande evolução do aparelho de distribuição em Portugal acontecerá com o desaparecimento das lojas alimentares que não conseguem faturar o mínimo para proporcionar rendimentos decentes aos seus donos. Como é possível imaginar que lojas alimentares, minimercados, mercearias, com uma faturação inferior a 200€ por dia tenham um futuro? 
Lojas com nível de faturação demasiado baixo para remunerar o seu dono em mais do que o ordenado mínimo não podem fazer parte do futuro. Aliás, são lojas que acumulam um ou vários fatores negativos tais como: 
- O retalhista está numa situação de fim de vida e utiliza a sua loja como meio para ainda ter uma atividade social e viver. Este tipo de retalhista não quer investir nem um centavo, não quer comprar novos equipamentos, não quer reorganizar a sua loja, não está aberto a novidades ou a novas técnicas. A sua loja está na antecâmara da morte. 
- O retalhista tem uma loja numa zona geográfica onde a atividade está em declínio e a demografia em queda. Não é que ele não queira investir; simplesmente ele não pode. O nível de faturação torna impossível ou insustentável qualquer investimento. A loja está condenada a morrer! 
- O retalhista, em razão de convicções erradas, não quer mudar e acha que são os consumidores que deveriam perceber que ele está no bom caminho. Ele acha que ter as portas abertas é suficiente e que os consumidores são tão ignorantes que preferem as grandes superfícies à sua loja! 
- O retalhista, em razão de falta de formação técnica e/ou de capacidade em aplicar as técnicas de gestão moderna de uma loja, toma decisões erradas e vai afundando o seu negócio. 

Estas quatro categorias de retalhistas representam centenas de pontos de venda que estão no fio da navalha, em situação altamente crítica. Na melhor das hipóteses, não se vê nestes cenários outra coisa do que uma sobrevivência penosa! 

O efeito bola de neve será sísmico 
A análise sucinta apresentada no parágrafo precedente pode ser vista como pré-apocalíptica – assumo-a como tal - porque a parte apocalítica virá logo depois, ou seja: 
Os retalhistas, os mais envelhecidos, que estão a protelar por razões de protagonismo local ou por não quererem arrumar de vez as botas, vão acabar por morrer. Em muitos casos, a continuidade do negócio não está prevista, porque os filhos não querem uma vida de retalhistas e fizeram a sua vida longe da loja do pai. Aliás, muitas vezes a continuidade é impossível porque o “produto loja” está no fim da fase de declínio; a loja vai desaparecer por completo do universo do retalho alimentar. 
Os retalhistas que fazem parte do grupo dos comerciantes que não têm sucesso e/ou que não têm formação suficiente para avançar mais vão continuar os seus caminhos com muitas dificuldades. Eles vão ficar cada vez mais pobres, até chegarem ao ponto de - para muitos deles - terem de fechar a sua loja. 
Em paralelo a isso, podemos observar que insígnias do comércio associado organizadas instalaram-se no mercado português: 
- com lojas próprias e novas: o exemplo mais forte é a insígnia Intermarché ; 
- com a agregação de lojas de retalhistas independentes de maior consistência, “caçados” em razão das suas características favoráveis: os exemplos são Meu Super, Coviran, Spar. Obviamente, nestes grupos, há casos de grandes sucessos e exemplos de fracasso. 
No entanto, o que deve ser observado é que estas insígnias funcionam essencialmente em circuito fechado, mesmo se a liberdade inerente ao comércio associado permite que certos associados ou aderentes comprem a outros fornecedores além da própria central. Esta forma de funcionamento subtrai claramente uma parte do negócio dos grossistas tradicionais. 
Em consequência, o que é o que fica para os grossistas tradicionais do setor alimentar? Será que o tamanho e o valor do mercado permitirão evitar uma hecatomba neste canal de distribuição? Pessoalmente, duvido que haja espaço para que sobrevivam mais do que alguns atores do setor grossista. A onda sísmica que está a surgir com os ajustes do setor alimentar retalhista vai atingir com força o setor grossista. Durante a próxima década, as orações fúnebres vão ser numerosas! 

A interligação entre os atores grossistas e retalhistas da distribuição é tal que existe de facto um efeito dominó entre eles. A falta de lucidez e de definição de uma estratégia para adaptar as empresas às evoluções, que são elementos inevitáveis da vida, só podem provocar a prazo, o colapso de uns e - por efeito dominó - o colapso dos outros. 

Boa reflexão e bom trabalho, 
O seu sucesso está nas suas mãos! 
RB

3 comentários:

  1. A caracterização dia atuais atores do retalho e reveladoradora. Parece, que não estando atentos ao mercado os retalhistas estão condenados a desaparecer. Mas para mim o mais desafiante será continuar a haver parceiros grossistas, esclarecidos e atentos a evolução do mercado. Porque sem fornecedores à altura, o retalho independente não conseguirá sobreviver.

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  2. Abordagem pertinente...as lojas de retalho muitas vezes têm sido utilizadas para salvar o grossista e não propriamente como um projecto específico nas suas necessidades.Acredito que podem aparecer novos retalhistas com novas dinâmicas,assim as estruturas de apoio existam para dar resposta

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  3. Tambem concordo que novos actores podem surgir neste cenario e ha espaco para eles, a questao principal e a mentalidade de quem ja nao quer inovar porque deixou de acreditar no mercado, mas espaco existe. Os lojistas de pequenos espacos ha muito que estao condenados desde que teimem em subsistir sozinhos, ou tem de se agrupar em conjunto e criarem economias de escala que lhes permitam aproximar-se dos super e hipermercados, sendo que a modernizacao das instalacoes para alem disto tem custos que estes lojistas nao podem suportar e os que o podem nao estao dispostos a faze-lo, mesmo assim se conseguirem atingir certos nichos de mercado poderao subsistir e resistir a este anunciado "Tsunami".

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O Blog foi feito para proporcionar um espaço de expressão dos atores do mundo do comercio. Encorajo cada leitor a intervir, e a ser um elemento valioso de trocas construtivas para todos.