Depois de terem sido anunciados com força e
apresentados como a panaceia para o retalho alimentar de pequena dimensão, os projetos
de comércio associados estruturados e rígidos parecem mudos e até apagados. De facto,
quid dos projetos Amanhecer, Meu
Super, Coviran, Spar…?
A
priori,
os modelos apresentados, encostados a grupos ou estruturas fortes, conhecedores
do mercado e das especificidades da distribuição, são pensados e articulados em
termos comerciais, marketing, organizacionais, e nada parece ser feito ao
acaso. Existem contas de exploração previsionais em função do tamanho da loja, um
nível de investimentos necessários no arranque da atividade e um apoio logístico
forte e regular, entre outras coisas para perfazer a panóplia dos elementos nos
quais é baseada a relação entre quem gere a rede e quem participa na rede como
associado. Assim, não é certamente a inconsistência técnica dos modelos que
está a travar o sucesso destas insígnias!
A maior parte dos retalhistas conhecem estes
projetos por terem ouvido falar deles ou por terem procurado informações, e até
por terem tido contatos com os respetivos responsáveis de desenvolvimento. Se tão poucos
deram o passo é porque os pontos de vista à partida são divergentes. E, esta divergência,
fácil de perceber, vem do antagonismo subjacente entre a noção de Investidor e
a noção de Comerciante. Investir é aceitar, para ganhar um certo “return”, de entregar a outro o seu património,
na sua totalidade ou em parte, consoante o nível de risco assumido mas, ser
comerciante é, todos os dias, gerir o seu negócio na totalidade ou seja, gerir
a organização da loja, a definição do sortido, a politica de preço, a
comunicação, o relacionamento com os clientes e os fornecedores e - elemento
importante - definir de maneira independente o eixo diferenciador da loja ou
seja o seu posicionamento. Aliás, os comerciantes fazem muitas vezes a pergunta
de saber quem é que vai mandar na loja depois de entrar numa estrutura de comércio
associado estruturado e rígido… também há quem não faça a pergunta porque percebe
de imediato que dar um passo à frente será uma perda de soberania.
Existem reais pontos de divergência entre a noção de Investidor e
de Comerciante:
A estrutura a
montante
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O comerciante
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Quer liderar o processo
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Quer ser dono na sua loja e tomar as decisões-chave
importantes
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Quer impor as suas diretrizes
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É intrinsecamente individualista e acredita na força do seu
trabalho e das suas ideias
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Define o nível de investimento
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Quer controlar o seus investimentos e não gastar mais do que o
necessário
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Quer ser ela a definir o sortido da loja
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Quer que o sortido seja uma prerrogativa sua, porque é o esqueleto
da loja
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Quer ser o único fornecedor da loja
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Quer uma certa liberdade para evitar uma posição de
dependência e, quer gerir as compras locais
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Quer definir a política de preço da loja
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Quer gerir o nível de preço e fazer as compensações de margem
consoante o seu posicionamento
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Quer uniformizar as lojas
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Quer diferenciar-se como bem entender, segundo os critérios que
ele próprio define
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Exige um acesso ao sistema de informação
da loja
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Sabe que no negócio tudo não pode ser divulgado, devem existir
informações sigilosas
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Quer que só a rede conte
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Quer o sucesso em primeiro para a loja dele e alcançar um
nível de realização pessoal
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É um erro considerar o comerciante como um mero investidor!
O comerciante é uma pessoa que luta
diariamente para alcançar um bom nível de vida e construir um património. Ele gosta
dos apoios que lhe permitem sentir-se menos sozinho, por isso pode integrar uma
estrutura de comércio associado flexível; ele retribui os apoios através da sua
fidelidade mas, gosta da sua liberdade e de ter a soberania sobre o seu negócio.
RB
Pessoalmente, sou da tua opinião. Acho que a fórmula de maior sucesso passará por uma relação próxima entre comerciante e distribuidor, em que ambos cooperam no desenvolvimento do negócio: ao distribuidor interessa ter um canal de escoamento eficaz e rentável. Ao comerciante interessa rentabilizar o investimento e melhorar o seu negócio. Para isso, há duas premissas: o distribuidor deve respeitar a individualidade do comerciante; o comerciante deve compreender que pode lucrar com algum conhecimento técnico que o distribuidor possui (por força da sua dimensão e da estrutura que a suporta) e ter a capacidade de aceitar sugestões que podem resultar no desenvolvimento do negócio.
ResponderEliminarOlá Fernando....estamos a ver o mesmo filme
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