Estamos a viver uma época de transição que
marca um corte entre uma vida moldada pela vida da “quinta”, feita de cultivo e
de criação de animais e uma vida urbana, onde tudo o que se come é comprado na
loja do lado. Essa evolução parece radical mas no fundo é fruto de uma mutação
lenta da sociedade.
As casas com cozinha separada já não estão na moda
Há apenas
20 anos, os construtores não se atreviam a construir apartamentos com a cozinha
aberta para a sala. Já estava na moda nos USA, mas não correspondia ao modo de
vida dos portugueses.
Nos
apartamentos portugueses, a cozinha tinha de ser espaçosa, era a divisão
principal da família, era onde se articulava o dia: preparação das refeições,
lugar onde se tomavam as refeições em conjunto. A sala era o espaço social,
onde se recebiam os convidados, onde se via a televisão. E, os quartos eram
espaços privados.
O “povo” urbano criou raízes
A vida
urbana tal como foi nos últimos 30 anos ficou impregnada de uma certa cultura
rural, com as suas crenças, a sua repartição das tarefas em casa. Quantas
pessoas vivendo em Lisboa hoje vêm de famílias provincianas? Era costume para
muitas pessoas irem, durante as férias de verão, à Terra, ver os pais e os
amigos de infância que tinham ficado na aldeia.
Hoje,
muitas aldeias do interior perderam população e não é raro ver casas
abandonadas, casa que os herdeiros que foram viver para Lisboa há 30 ou 40 anos
nem sequer reclamam. A aldeia já não é a Terra deles; a Terra deles é a cidade! Das raízes
urbanas foi criado um modo de vida onde tudo o que se consome deve ser
comprado. Se nos campos o tempo é lento e é saboreado assim, nas cidades o
tempo é algo ressentido como rápido. Para responder à pressão do tempo, os
urbanos aderem facilmente às soluções que lhes facilitam a vida ou que lhe dão
a sensação, objetiva ou subjetiva, de gerir melhor os momentos do dia e de os controlar.
A compra
de comida preparada ou pré-preparada é normal e preparar as refeições é visto
com um perda de tempo e de qualidade de vida, o que é paradoxal se consideramos
que nunca houve tantos programas culinários na televisão. Até, parece que o que
se vê nos programas culinários condiciona não a vontade de fazer, mas sim de
encontrar uma loja que proporcione o que foi visto na televisão. A cozinha
tornou-se essencialmente um sítio de assemblagem das refeições.
A assemblagem de produtos pré-elaborados ou elaborados
A repartição
da população dá um peso desproporcionado à população urbana, com uma cultura própria
que coloca em primeiro a gestão do tempo do indivíduo. O retalho do setor alimentar
que outrora vendia produtos que deviam ser cozinhados, não vai ter outra opção senão
reorganizar-se. As lojas deverão adaptar-se para propor mais, mas muito mais,
produtos pré-elaborados ou preparados. Os retalhistas deverão encontrar novos
interlocutores grossistas, capazes de oferecer soluções neste sentido. É
regular ver em Lisboa retalhistas comprarem produtos pré-preparados ou
preparados no Lidl para os vender nas suas lojas, não porque optaram por
comprar mercadorias no Lidl mas simplesmente porque não encontram estas
soluções nos grossistas “clássicos”.
Nada pode travar as evoluções
que provêm de uma germinação lenta e consistente. Os consumidores estão ansiosos
por soluções que se adaptem às suas realidades, exigências, caprichos.
Imagem a partir de https://maravilhasdeportugal.info/cozido-a-portuguesa/
Boa
reflexão e, bom trabalho.
O seu sucesso está nas suas mãos!
RB
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