2019 terá sido um ano de grandes investimentos
para o grupo Auchan em Portugal. Uma situação nitidamente em contraste com a sua
saída da Itália, com a venda da atividade de retalho à Conad uma organização
cooperativista local. Aqui, em Portugal, os investimentos parecem ter sido
servidos à concha! Todavia, como depois de qualquer banquete bem servido, pode
haver momentos de digestão difícil.
O mercado português deu apetite
Portugal,
um pequeno país, geograficamente afastado das grandes rotas do comércio europeu
e, a partir de 2008, afundado numa crise brutal, não tinha à priori grandes características que
encorajassem um investimento avultado no retalho alimentar.
Mas, de
forma sintética, vários elementos, quer internacionais quer europeus, jogaram a
seu favor:
-As
revoluções nos países árabes, mais conhecidas como a primavera árabe, provocaram
uma destabilização dos sítios de destino turístico e Portugal viu surgir uma
onda gigantesca de turistas;
-A chegada
à idade da reforma de milhões de europeus, que fez crescer ainda mais a
gigantesca onda turística e que levou milhares desses reformados a querer
beneficiar das vantagens fiscais promovidas pelo governo português.
Podemos
juntar a esse panorama ultra favorável, a simpatia genuína do povo português, a
clemência do clima, um custo de vida baixo em relação a outros pais europeus.
Tudo isso
tornou Portugal apetitoso e deu vontade de investir.
Os investimentos da Auchan foram feitos à concha!
Reorganizar
o hipermercado do C.C. Alegro de Alfragide e abrir duas dezenas de lojas My
Auchan em Lisboa representam investimentos colossais, ou seja a aposta é forte
e a fasquia é extremamente elevada. O “return
on investment” não é uma opção, é uma obrigação, um imperativo!
Sabendo
que o momento não é propício ao formato hipermercado, reorganizar um
hipermercado do tamanho da loja de Alfragide é pesado e arriscado. Nada pode
ser deixado ao acaso.
Sabendo
que a proximidade tem os favores dos consumidores, a operação My Auchan parece
acertada mas, o tamanho das lojas, os imperativos técnicos e logísticos tornam
o “return” dos investimentos urbanos baixo, ver inexistente numa fase inicial.
Aqui também nada pode ser deixado ao acaso.
A matriz conceitual é a mesma para todos os formatos e os erros
também!
Nitidamente,
olhando para as reorganizações das lojas antigamente Jumbo e Pão de Açúcar e a
organização das lojas My Auchan, similitudes podem ser destacadas entre os
diferentes formatos. Até parece uma extrapolação da indústria automóvel onde se
vê uma linha geral e transversal a todos os modelos de carros.
Tomando o
risco de parecer pretensioso, vejo com muita satisfação que muitos pontos, que
defendo em consultoria técnica no terreno e nas formações que animo, foram tidos
em consideração. Também vejo um conjunto de falhas, de incoerências que criam mal-estar
no cliente – consciente ou inconscientemente – e que devem penalizar o talão de
compra médio e por ricochete a rentabilidade das lojas. Organizar lojas não se
limita a juntar pontos técnicos soltos. Não! Organizar lojas implica tentar vestir
por completo a pele do consumidor médio.
O problema é que num período de
forte dinâmica os erros são minimizados e um aumento da faturação de uma insígnia
parece dar razão a quem diz que está tudo bem. É verdade que mais faturação
quer dizer que os compradores têm um poder negocial reforçado e que eles podem obter
melhores condições comerciais. Queria sublinhar que, em
razão do que escrevi no primeiro parágrafo, todos os atores da distribuição em
Portugal estão a crescer em faturação. Não é uma consequência de um bom empenho
técnico das insígnias, é apenas uma consequência de um mercado que fervilha
para todos! Cuidado, há sempre um momento
onde aparece a conta a pagar… e a operação da Auchan na Itália é prova disso.
Boa
reflexão e, bom trabalho.
O seu sucesso está nas suas mãos!
RB
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