A informação chegou a toda
gente: afinal, “eles”, aquelas elites da economia, tinham-se enganado. “Eles”
pensavam que 1€ de austeridade provocaria 1€ de contração da economia, quando
na realidade cada euro de austeridade provocou uma contração de 3€ da economia. Não me preocupo com
aquelas elites, até porque a verdade seria provavelmente mais nuançada; “eles”
sabiam entre eles que este esquema era necessário para, provocar, entre outras
coisas, uma imigração interna na Europa, capaz de sustentar o nível das pensões
e outros apoios que o governo alemão vai ter de proporcionar cada vez mais aos
seus cidadãos envelhecidos e sustentar a política social da França. A
perspetiva é de que os alemães, que hoje são 82 milhões, passarão a ser em 2050
entre 73 e 66 milhões e que os seniores, ou seja quem tiver pelo menos 60 anos,
representarão cerca de 40% da população (1).
Não, não me preocupo com “eles”; preocupo-me
com
o consumo em geral em Portugal, com o universo dos comerciantes que trabalham de madrugada até tarde para conseguir uma vida mais ou menos decente. E, é provável que o “remédio” aplicado à economia portuguesa produza cada vez mais mudanças no comportamento de compra dos consumidores.
o consumo em geral em Portugal, com o universo dos comerciantes que trabalham de madrugada até tarde para conseguir uma vida mais ou menos decente. E, é provável que o “remédio” aplicado à economia portuguesa produza cada vez mais mudanças no comportamento de compra dos consumidores.
As marcas de
fabricantes/produtores, outrora chamada marcas
líderes, estão a perder terreno dia após dia;
As marcas dos
distribuidores, outrora vocacionadas para ocupar um lugar de chalenger e utilizadas
pelos distribuidores para picar os fabricantes de marcas líderes, estão cada
vez mais a liderar as respetivas categorias.
Esta evolução vai ter consequências, porque
normalmente é ao líder que cabe fazer evoluir a categoria e inovar, papel que para
já está longe da rotina e das capacidades técnicas dos distribuidores.
Do lado dos fornecedores, as tentativas de
recuperar a liderança do mercado podem passar (i) pela baixa dos preços de
venda e neste caso seria uma perda de valor, valor que vai demorar tempo a
reestabelecer e/ou (ii) pela colocação no mercado de novos produtos realmente
inovadores e neste caso é necessário um aumento dos rendimentos dos
consumidores.
As marcas de 1º preço vão com certeza
continuar no mercado, quer de uma forma organizada, ou seja como parte de uma
política global de sortido dos distribuidores, quer de forma anárquica, com a
entrada “avulso” de marcas desconhecidas nas lojas. De qualquer maneira, elas
vão continuar a existir até que o clima económico melhore.
As decisões tomadas pelo governo em termos
económicos para 2013, decisões que não me cabe aqui discutir, vão com certeza
obrigar os consumidores (aliás numerosos segmentos de consumidores serão
atingidos por esta onda) a redefinir as suas escolhas em termos de compras,
para continuarem a viver com um orçamento familiar reduzido.
As mudanças vindouras não deixam espaço para
improvisação em termos de gestão. Em termos de vendas em volume, vender um
produto da marca do fornecedor ou do distribuidor ou de 1º preço não tem um
impacto brutal, porque uma referência é uma referência, seja qual for a sua
origem. Mas em termos de valor de venda e de rentabilidade, as diferenças
são abissais e qualquer erro pode levar um Ponto de venda a perder toda a sua rentabilidade.
RB
(1)
L’EXPRESS Nº3183 de 4 de Julho de 2012 – Crónica de Jacques Attali “Convergence démographique”.
Sem comentários:
Enviar um comentário
O Blog foi feito para proporcionar um espaço de expressão dos atores do mundo do comercio. Encorajo cada leitor a intervir, e a ser um elemento valioso de trocas construtivas para todos.