Imaginemos a possibilidade de abrir uma loja
de 200m2 (para responder a um pedido do José Carlos,
que se reconhecerá)
1- Eu diria que 200m2 é uma
superfície limite para uma loja de tipo pequeno supermercado. Se estes 200m2
envolvem a superfície do armazém, da zona administrativa e dos cacifos para os
empregados, é claro que a placa de venda terá uma superfície bastante menor.
2- É preciso saber onde
está localizada a loja, para saber se a localização é de excelência ou se é
mais ou menos boa. Se for uma localização mais ou menos, se calhar todos os
cuidados serão insuficientes se quem estiver à frente da loja (a tempo inteiro)
não for o dono. Fazer uma casa é de facto - e antes de tudo o mais - uma
responsabilidade e um saber fazer do dono. Os colaboradores podem ser bons
profissionais e terem um bom empenho, mas representam apenas um reforço do
impacto do dono.
3- É preciso observar os
fluxos de passagem na rua, tanto dos pedestres como dos automobilistas. No
nosso mundo, a igualdade não é uma regra ou seja, é muito provável que um
sentido de passagem seja mais forte do que o outro. Obviamente ter uma loja
situada no sentido de passagem mais fraco não dará uma grande garantia de
sucesso.
4- Uma loja é um ponto de
atração e, podemos pensar que uma loja de 200m2 por si só raramente será um
ponto de atração salvo se for uma loja de aldeia distante de um centro urbano.
Neste caso, será um ponto de atração limitado aos moradores da aldeia e pouco
mais, e portanto uma loja de faturação limitada à riqueza local e cativa.
Assim, seria mais
interessante ter uma loja envolvida num conjunto de outros comércios capazes de
provocar - por adição das suas forças próprias - uma atração diária de bom
nível e contínua.
200m2 é uma superfície muito compacta
Uma loja do retalho
alimentar moderna deve poder responder às necessidades e motivações diárias dos
consumidores situados na sua zona de atração. Eu costumo dizer que antes de
querer comprar produtos, os consumidores querem comprar uma solução.
Se o objetivo da loja é
vender produtos, as vendas corresponderão à desempanagem, à venda de qualquer
produto que tenha sido esquecido durante as compras feitas numa outra loja.
Se o objetivo da loja é
vender soluções alimentares do dia-a-dia, será preciso prever um conjunto de
zonas específicas para vender os produtos frescos, quer em livre serviço quer
numa seção com atendimento. Recentemente respondendo a um comentário de um
post, expliquei que se antigamente se dizia, e com razão, “no parking no
business”, hoje podemos dizer “ no Take Away no business”. O Take Away
corresponde plenamente às evoluções da sociedade, onde o tempo se tornou um
valor essencial da liberdade das pessoas.
O leitor perceberá que dar
a primazia às soluções alimentares terá como consequência o uso de uma parte
significativa da placa de venda. O que sobrará será atribuído ao resto do
sortido. Este resto terá de ser gerido pormenorizadamente.
200m2 de placa de venda obrigam a uma gestão
afinada do sortido
De facto, o linear tem um
limite de elasticidade. Depois de se ter rentabilizado cada m2 de placa de
venda, é impossível emalhetar mais qualquer coisa. Neste caso é preciso fazer
opções em termos de largura do sortido e em termos de profundidade das gamas. É
preciso definir as prioridades e fazer escolhas.
Se for uma loja posicionada
para as soluções alimentares é provável que as categorias do DPH (Drogaria,
Perfumaria, Higiene) tenham de ser analisadas para gerir a pertinência da
profundidade da oferta, segmento a segmento.
Em 200m2 o peso dos recursos humanos deve ser
pensado
A análise é diferente conforme
se tratar de uma loja familiar, na qual trabalha um casal de comerciantes com a
ajuda pontual do resto da família, ou de uma loja entregue a uma equipa de
funcionários.
Se for uma loja familiar,
200m2 dão para ter uma vida correta e até boa se o negócio correr bem. Os donos
trabalharão muito mas, serão recompensados pelos seus esforços.
Se for uma loja que, por
ser uma segunda loja ou por qualquer outra razão, é cuidada por uma equipa de colaboradores,
os recursos humanos serão pesados, pois o tempo de trabalho legal de cada
individuo obriga a multiplicar os recursos humanos em função dos turnos. Além
disso, é preciso contabilizar as baixas, as ausências, as férias etc. O dono da
loja pode sempre reduzir os recursos humanos mas é sabido que para além de uma
certa redução, o nível de serviço diminui e por consequência a satisfação dos
clientes também.
O setor do retalho alimentar tornou-se tão técnico que cada ação
deve ser pensada e analisada cuidadosamente, antes de ser concretizada. A
concorrência é com certeza um fator a ter em conta, mas o que é ainda mais
importante é ter em conta as evoluções de consumo no mercado dos consumidores e
o que isso implica na gestão diária de uma placa de venda
Boa
reflexão e bom trabalho,
O seu sucesso está nas suas mãos!
RB
Dr. Diz-me a minha experiência, que lojas com esta dimensão não funcionam, o elevado custo das mesmas, face á sua rentabilidade, fazem com que seja deficitaria.
ResponderEliminarCaro António,
ResponderEliminarUma loja de 200m2 quando gerida por uma família é um “produto” ainda lucrativo. Tudo depende do empenho do seu dono, do posicionamento escolhido e da eterna questão da sua gestão no dia-a-dia, pois a época das lojas gerida por cima do joelho já passou e não voltará.
Agora, quando se trata de uma organização concordo plenamente contigo. Os custos logísticos somados aos custos dos recursos humanos tornam lojas desta superfície dificilmente lucrativas.
Agradeço o teu comentário pois a tua grande experiência neste setor dá credibilidade às tuas palavras. Eu te desejo um agradável dia. Abraço