Inscritos como seguidores do blog

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Porquê o sucursalismo

Em seguimento do “Post” O sucursalismo: A fórmula comercial que faz falta!, queria abordar as razões pelas quais acho que o sucursalismo poderá representar um novo eixo de desenvolvimento.

A situação da distribuição portuguesa apresenta um panorama onde estão presentes grupos de distribuição organizados, quer sob a forma do comércio associado quer sobre a forma do comércio integrado, e um conjunto de lojas de pequena dimensão chamadas lojas de proximidade e de conveniência. Nos grandes “players”, podemos distinguir os puros integrados, os puros associados e os mistos.
Assim Jerónimo Martins, na sua vertente Pingo Doce, Aldi e Lidl, são puros integrados; Intermarché, Leclerc, Novoretalho (Insígnia Spar), são os puros associados;
Sonae, nas suas vertentes Continente e Meu Super, e Auchan, nas suas vertentes Jumbo e Pão de Açúcar, e as respetivas atividades com insígnias independentes, como Minipreço Dia%, são grupos mistos, ou seja atuam no comércio integrado e também no comércio associado, independentemente da profundidade ou da complexidade das relações estalecidas.
Os puros integrados e os puros associados estão a trabalhar fórmulas comerciais bem torneadas, com um saber fazer forte quer logístico, quer comercial, quer em marketing, quer em gestão dos recursos humanos, quer em termos de relação clientes. Portanto, é de prever que estas fórmulas vão continuar, adaptando-se às evoluções do mercado com o objetivo de fazer viver bem os seus acionistas ou os seus aderentes/associados.
Os grupos mistos terão tendência a ter cada vez mais dificuldades em gerir a vertente comércio associado porque hoje em dia a rentabilidade do retalho alimentar é pequena, e os contratos que unem as cabeças de rede aos seus associados limitam demasiado a expressão comercial destes últimos.
É verdade que os associados das cadeias de comércio associado, organizadas e geridas por grupos de distribuição associados, têm a sensação de ser excluídos das decisões estratégicas essenciais, e que devem arcar totalmente com os riscos inerentes ao negócio; afinal podem sentir-se espoliados das decisões estratégicas mas totalmente responsáveis do bom funcionamento do negócio. Estamos longe de um quadro “Win-Win”: o associado tem a sensação de que o líder da cadeia é o único a ganhar.
Mas, é fácil perceber porque é que os grupos integrados tentaram alargar o seu mercado desenvolvendo o comércio associado; O investimento é do associado, o risco é do associado, as despesas de estrutura da vertente associada são absorvidas em boa parte pela estrutura integrada já existente… afinal, é um jogo bem jogado pelo líder da cadeia de comércio associado. Cada um perceberá que numa altura de preço elevadíssimo do m2 de loja, era muitíssimo melhor ter associados a investir e a suportar todos os custos de instalação. A acrescentar à carga do associado, a gestão dos recursos humanos numa altura em que arranjar empregados com o salário mínimo era muito complicado.
Embora com algumas pequenas diferenças, isto também se aplica a grupos de distribuição de tipo puros associados.
Mas o contexto geral mudou, as condições atuais são diferentes, muito diferentes. O imobiliário está a conhecer uma quebra em todo o país, uma queda brutal do preço do m2 para compra e também para alugar; o rendimento das famílias está a encolher e não permite grandes excessos; os bancos fecharam a torneira do crédito para o comerciante e para os consumidores, crédito que outrora era de fácil acesso; além de ser uma atividade de grande entrega, com uma carga de trabalho elevada e um horário de trabalho de grande amplitude, o comércio alimentar tornou-se numa atividade de rentabilidade fraca, ver incerta, e já não atrai novos investidores como no passado; o constante aumento do preço da gasolina leva os consumidores a comprar mais perto da casa, a pé, para evitar despesas inúteis; comprar apenas o que falta para a solução de vida diária é comum e o envelhecimento e a diminuição do valor da reforma vão também contribuir para uma nova forma de consumo, mais perto da casa, por menos quantidade e mais vezes; as evoluções tecnológicas, com a implementação da facilidade que permite internet e a telefonia, estão a ter impacto no comportamento dos consumidores…etc.
Afinal, a evolução do contexto geral, como explicado acima, poderá ser uma base de reflexão que levará os grupos a fazer evoluir a sua fórmula de comércio associado atual para uma fórmula baseada no sucursalismo, na qual o estabelecimento pertence ao grupo de distribuição e a gestão do ponto de venda é entregue a um casal gerente-mandatário, responsável pela aplicação da estratégia refletida pela casa mãe; o gerente-mandatário não sendo responsável neste caso pelo investimento, mas apenas pelo fornecimento do seu trabalho, energia e disponibilidade. As lojas terão uma dimensão inferior a 400m2, serão articuladas para facilitar a vida diária dos consumidores à sua volta, o circuito da loja será estudado para que a estadia do cliente na loja seja agradável, para que as compras sejam simples e rápidas e, tudo isto num contexto de maximização das vendas e da rentabilidade. O preço do m2 das lojas e o tamanho das lojas deverão permitir um investimento bem controlado, propício ao desenvolvimento da fórmula do sucursalismo.
O sucursalismo será “in fine” a evolução normal da tentativa de desenvolvimento do comércio associado pelos grupos de distribuição integrados e, será esta fórmula que - no futuro - os comerciantes independentes e associados a uma estrutura grossista deverão combater nos bairros, nas ruas, nas aldeias, nas cidades. É a próxima luta!
RB

Sem comentários:

Enviar um comentário

O Blog foi feito para proporcionar um espaço de expressão dos atores do mundo do comercio. Encorajo cada leitor a intervir, e a ser um elemento valioso de trocas construtivas para todos.