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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O responsável de rede de lojas, “Operacional-chave” do Ponto de Venda


O contexto no qual os Pontos de venda evoluem nunca foi tão exigente em Portugal, que entre 1980 e 2008 viveu anos dourados, durante os quais tudo foi possível, sem necessidade de uma grande tecnicidade. Aliás, do Norte ao Sul do país existem casos de empresas outrora prósperas, que hoje em dia estão em maus lençóis ou pura e simplesmente falidas.
As empresas que hoje em dia lideram a distribuição retalhista, no setor alimentar, são organizadas de maneira a tornar mais eficiente a cadeia de abastecimento; assim, a uma parte da organização cabe a negociação das melhores condições comerciais com os fornecedores para colocar os produtos nas prateleiras das lojas e; cabe aos Pontos de Venda a gestão da relação diária entre a insígnia, os produtos e os clientes, sendo claro para qualquer operacional da loja que o seu papel fundamental consiste em transformar cada cliente num comprador a 100% (1).

Neste quadro, é claro que a divisão entre montante e jusante responde a uma necessária divisão das tarefas e em consequência das responsabilidades; a montante cabe a definição das decisões estratégicas logísticas, de marketing, comerciais, de apoios técnicos a implementar para apoiar as lojas e dos meios que lhes estão ligados e, a jusante, cabe o trabalho de terreno, do dia-a-dia nas lojas, ou seja toda a vertente operacional da atividade de distribuição, vertente que - como cada profissional sabe - é complexa e exige muito trabalho e dedicação, para propiciar e manter a relação de negócio com os clientes.


Daí, a importância da função de responsável de rede de lojas, um papel

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

As LPD “Loja de Pequena Dimensão” a nova fronteira

A área do comércio alimentar está a viver momentos de transformação profunda das quais sobressaltam, três pontos que queria por em relevo:

1- Um interesse dos grandes grupos para o retalho de pequena dimensão (LPDLoja de Pequena Dimensão). Seja qual for os resultados obtidos - a palavra que passa está à dizer que não são dos melhores – não deixe de ser óbvio que estes grupos do retalho precisam de crescer, de forma mais controlada em termos de custos, mais perto da população, para continuar a sua busca de controlo do mercado;
2- Uma limpeza do universo retalhista; as lojas, que deviam fechar por falta de condições de funcionamento que seja em termos de arquitetura, de geometria da loja, de má localização, de desfasamento em termos de gestão, de idade avançada dos donos, estão em grande parte fechadas, deixando o mercado livre e aberto a novos “conquistadores”;
3- A chegada no mercado de novos empreendedores, novos “conquistadores” da distribuição da área das LPDLojas de Pequena Dimensão”. Estes novos chegados vão ter de ser técnicos, empenhados no acompanhamento técnico, da loja em termos físicos, dos clientes em termos de relacionamento, dos produtos em termos de gestão das gamas capazes de satisfazer as expetativas dos clientes, da rentabilidade do negócio porque sem rentabilidade adequada não há negócio perene.

As condições gerais são paradoxalmente mais favoráveis agora do que alguns meses atrás em grande parte porque o contexto económico geral mudou e propõe algumas oportunidades tais como:
-O número de lojas para aluguer está a aumentar em contrapartida do fecho de atividades comerciais que não aguentaram a pressão da crise atual;
-A diminuição dos preços do m2 de aluguer das lojas;
-Uma diminuição do custo de intervenção dos empreiteiros da construção civil que precisam de arrecadar obra;
-O aparecimento de oportunidades para a compra de equipamento de loja em segunda mão fruto do fecho de lojas que não resistiram as condições atual do mercado;
-A possibilidade de recrutar com bastante facilidade uma mão-de-obra em consequência do desemprego do momento;
-Os consumidores estão a passar de um consumo sem limites a um consumo limitado as possibilidades permitidas para os seus rendimentos e por isso mesmo estão a voltar a descobrir os benefícios da compra em pequenas quantidades ao pé das suas casas;
-O retalho alimentar está a beneficiar de uma transferência de clientela vinda da restauração. Pois, antes da crise as idas ao restaurante eram frequentes e espontâneas enquanto agora são menos frequentes, refletidas e enquadradas em termos de despesas, porque a solução festiva provocada pela crise é a compra de pratos pré-preparados no supermercado para uma refeição festiva em casa.

A nova batalha será com certeza a batalha do controlo das ruas, dos bairros, das pequenas cidades a traves das (LPDLoja de Pequena Dimensão). Esta batalha está a começar e faz sentido porque cada grupo de distribuição quer assegurar-se do melhor potencial de escoamento possível, este capacidade de escoamento, base imprescindível da negociação com os fornecedores e desejado por todos!
RB

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

UniMark como parceiro chave dos retalhistas independentes

O ano de 2012, que tinha sido apresentado como um ano de transição para melhores dias mas que ficará na memória como um ano difícil para todas as componentes da sociedade portuguesa, está a acabar e, infelizmente, anuncia um ano 2013 da mesma pipa.  


Todavia, como muitas vezes acontece, num quadro de grandes dificuldades aparecem pontos de luz que permitem esperar e ganhar força para lutar diariamente e continuar a existir. No universo do retalho alimentar, nomeadamente no mercado das LPD (Lojas de Pequena Dimensão), a central de compras UniMark, associada à central EuromadiPort, faz parte destas luzes de esperança.

Em 2012, a UniMark, liderada pelo Engenheiro João Vieira Lopes, também atual Presidente da CCP, continuou a desenvolver programas de apoio aos retalhistas através dos seus associados. Os apoios abrangem diversas formas, desde a formação até à consultoria técnica nas lojas e, são sempre apoios técnicos que têm como objetivo essencial ajudar os retalhistas a enfrentar as dificuldades que encontram e, garantir a atividade dos seus associados grossistas. Ajudando os retalhistas tecnicamente, é afinal todo o circuito de distribuição - incluindo o canal grossista - que é ajudado!

Em 2012, foram desenvolvidas ações de apoio técnico nas regiões de Braga, de Aveiro, de Coimbra, da Sertã e da Covilhã, sempre com grande sucesso, com numerosos retalhistas a participar nos ciclos de formação propostos. Nos momentos do debriefing, os retalhistas que participaram nas sessões de formação sublinharam a importância destas ações para o seu dia-a-dia de trabalho, a pertinência dos temas abordados e reconheceram o papel importante da UniMark no apoio técnico às lojas.

Em 2013, UniMark vai prosseguir com as ações de apoio aos retalhistas de maneira a favorecer a melhor adaptação dos pontos de venda às realidades atuais do mercado, na ótica de tornar a atividade dos retalhistas perene e rentável.

Algumas fotografias das ações de 2012.
Formação OPV - Soprei - Sertã
Formação OPV - Soprei - Sertã

Formação OPV - Carlos Barata - Covilhã

Formação OPV - Carlos Barata - Covilhã

Formação OPV - Carlos Barata - Covilhã



Formação OPV - Carlos Barata - Covilhã
RB

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um pouco de prospetiva para 2013 e anos seguintes

Para as empresas do setor da distribuição, 2012 foi um ano em que as MDD (Marcas dos Distribuidores) subiram fortemente, contribuindo cada vez mais para uma parte significativa do negócio; de facto, as MDD representam agora +/- 40% das vendas e, se juntarmos as MDD e os PP (“Primeiros Preços”) estamos a alcançar +/- 44% das vendas. 

Em termos gerais, 2012 está quase a acabar e vai deixar um sabor amargo para muitas pessoas. Com a crise sendo o que é, a recuperação económica ainda está longe de alcance. No entanto, 2012 ainda foi um ano onde o “sonho” de dias melhores permitiu que a quebra não fosse ainda maior.
Ora bem, as empresas grossistas e/ou retalhistas pouco ou mal estruturadas em termos de MDD e de PP, passarão cada vez mais ao lado do mercado e verão uma queda forte da frequentação dos seus espaços comerciais e/ou Pontos de venda, das suas vendas e por fim da sua rentabilidade.

2013 será - segundo os especialistas - um ano ainda mais complicado do que 2012, com as famílias a terem de viver com menos dinheiro e a terem de pagar contas ainda mais pesadas. Os grupos líderes da distribuição estão a reagir e aproveitar a crise para aumentar a sua quota de mercado, conseguindo assim ter uma capacidade negocial ainda maior em relação aos fornecedores. As informações de mercado indicam um reforço das respetivas posições do Continente e do Pingo Doce.
Para falar apenas da insígnia Continente, gostava de sublinhar alguns pontos:
- Continente está a reforçar a presença da marca Continente, como já o sublinhei supra;
- Continente não conseguiu avançar como queria com o seu projeto de “Franchising” de loja de retalho “Meu Super”. Aliás isso confirmou a minha análise do ano passado, quando eu dizia que este projeto me parecia demasiado desfasado em relação ao mercado retalhista;
- Continente estaria em vias de conseguir comprar a GCT e as suas lojas de retalho.
Neste ponto, sublinho o seguinte: Se a Sonae conseguir concretizar a compra da GCT, as dificuldades do setor grossista serão ainda maiores, com mais um operador que tentará partilhar com a JM e a Makro o mercado português, esmagando as condições comerciais a partir da sua própria atividade grossista. Se este cenário se verificar, veremos a Sonae entrar em força nos segmentos da restauração e da hotelaria e no segmento do retalho. O setor grossista independente poderia conhecer momentos sombrios porque nós sabemos que a restauração está numa fase de grande contração e que o retalho de pequena dimensão e independente está a perder pontos de venda em todas as zonas do país. Ou seja, com mais um operador, o setor grossita deverá partilhar um mercado em diminuição em termos de faturação e em termos de número de pontos de venda.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Dia quer pesar mais na proximidade


Dia Espanha acabou de lançar o seu conceito de proximidade sob a insígnia Dia Fresh; 12 lojas já estão abertas em Madrid, Barcelona, Valladolid, Sevilha e Cadix mas segundo o que se diz, 20 novas outras lojas abrirão até o fim deste ano.

Quais são as características deste conceito de proximidade:
- As lojas serão lojas de centro de cidade….e provavelmente de densidade populacional comprovada;
- A superfície das lojas será pequena, estão anunciadas superfícies de 150 até 200 m2;
- Uma amplitude horária alargada;
- Um destaque particular para os produtos frescos e de snacking;
Ou seja,
- Estas lojas vão competir diretamente com as lojas do retalho independente ou associado de pequena dimensão;
- Estas lojas, de superfície pequena, serão flexíveis em termos de necessidade de colaboradores e, com certeza, vão beneficiar de uma logística eficiente e eficaz, ou seja serão lojas com custos de funcionamento baixos;
- Estas lojas que destacarão em força os produtos frescos, deverão tornar-se lojas de destino diário para um conjunto de fregueses, e deveriam assim penalizar os supermercados de periferia;
- O snacking, tendência de consumo atual, será também um elemento que penalizará os profissionais da restauração.

Os resultados 2012 da Dia:

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Circuito - explicações técnicas

Resposta ao comentário do “Post” - O circuito – Um elemento fundamental de Gestão da Placa de Venda 

Esta intervenção é bastante pertinente, porque sublinha a dificuldade de fazer passar a mensagem da importância da definição de um circuito bem pensado para cada loja, em função das suas características, arquitetural, técnica, geométrica e, das inspirações do comerciante.

Antes de mais, queria restabelecer os factos:
- Intermarché não é a única insígnia de supermercado a utilizar um circuito que inicia pela secção das frutas e verduras; a maior parte das insígnias fazem o mesmo: Pingo Doce, Minipreço, Coviran, Super Cor e numerosos retalhistas do comércio de pequena dimensão.
- As insígnias de hipermercado tais como Continente, Jumbo, possuem lojas de grande dimensão e propõem um sortido largo e profundo. Começar o circuito pela secção das frutas e legumes nessas lojas obrigaria a colocar os outros universos na parte à esquerda da placa de venda e, isso isolaria ainda mais o universo do bazar que ficaria muitíssimo penalizado em termos de atração dos clientes. Podemos notar que existem lojas Intermarché com entrada numa “penetrante”, que serve de zona de promoção, ladeada à sua direita pelo universo do bazar.

Para desenvolver melhor a importância de uma entrada de loja marcada pela presença do início do universo dos frescos, queria realçar os seguintes pontos técnicos:

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O circuito - Um elemento fundamental de Gestão da Placa de Venda

Seja qual for a loja, O Circuito é o percurso de deslocação do cliente na placa de venda e, é o elemento técnico essencial para tornar o consumidor que entra numa loja num comprador a 100%.

Ele deve favorecer a passagem dos clientes na totalidade da loja e o contacto dos clientes com a totalidade das referências que compõem a oferta de produtos.


Assim, uma boa definição do circuito tem frequentemente como consequência um aumento significativo das vendas, consequência de compras feitas com rapidez e maior simplicidade pelo cliente.

A definição do circuito é essencial porque é ele que vai condicionar a colocação dos equipamentos, e a distribuição das categorias de produtos. A própria implantação será uma resultante da qualidade de definição do circuito.

O circuito é o elemento técnico que permite levar o cliente a fazer as suas compras nas melhores condições, com facilidade e rapidez. Mas em função da placa de venda e dos imperativos técnicos e/ou arquiteturais, o circuito poderá ter uma fisionomia diferente sem no entanto perder a lógica do esquema técnico geral.

Esquematização do circuito eficiente para uma loja alimentar.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O futuro será para as LPD – Lojas de Pequena Dimensão

Segundo alguns economistas, como o professor Robert J. Gordon da universidade Northwestern no Illinois, o incrível crescimento do século passado não passaria de um acontecimento pontual quando olhamos para a história humana. Afinal, antes do século XVIII, o crescimento era apenas de 0,2% por ano e a partir daí, as evoluções tecnológicas, industriais e demográficas foram o motor de um crescimento sem precedentes que agora terá chegado ao fim…. Se calhar, vamos ter de nos habituar a viver com um crescimento económico baixo.

Assim, privado de um crescimento que sustente o consumo, refém de uma população envelhecida e portanto menos consumidora, o mundo da distribuição deveria conhecer algumas evoluções.
- Os grandes centros comerciais vão ter de se reinventar, para continuarem a ser um centro de atração de consumidores;
- Os hipermercados vão ter de aprender a viver numa sociedade onde a venda em grande volume terá tendência para diminuir e, onde os esforços deverão ser feitos em termos de dinâmica comercial para puxar as vendas do não alimentar;
- Os supermercados deverão ser cada vez mais fortes, sobretudo os supermercados com um tamanho adaptado a quem queira fazer as suas compras diariamente e rapidamente, ou seja os supermercados de pequena dimensão;
- Os minimercados deverão também conhecer um certo crescimento, porque estão mais vocacionados e adaptados para uma clientela que faz as suas compras a pé, ou seja clientes do dia-a-dia, moradores ou pendulares, que utilizarão o minimercado como loja de apoio diário.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Turbulências para Intermarché

Este é um momento dificil para Intermarché, que está a ver a sua quota de mercado passar para um valor inferior a 10% e voltar assim ao nível de 2005.

No grafíco infra vê-se muito bem a trajetória seguida pelos diferentes competidores na distribuição retalhista. (Na ausência de dados específicos para as quotas de Continente e Pingo Doce em 2005, mas sabendo que as duas insígnias juntas representavam 30% do mercado, estabeleci uma relação de 20% para Continente e de 10% para Pingo Doce).
-  Continente e Pingo Doce representam em 2012 45% do mercado, ou seja são os líderes incontestados;
-  Minipreço, embora tenha sofrido um momento de estaganação, provavelmente fruto das incertezas ligadas à sua afiliação com Carrefour, está numa trajetoria crescente;
-  Os outros competidores que correspondem ao comércio tradicional e a insígnias de peso marginal estão a apresentar um crescimento, contrariando a trajetória seguida nos últimos anos. É uma contrepartida da crise, porque os consumidores compram mais perto da casa para minimizar as despesas com o carro e para evitar as tentações de compra a que estão sujeitos nas grandes superficies comerciais e, é uma demonstração da dinâmica do comércio de pequena dimensão, independente, associado e integrado. Afinal, como já defendi numerosas vezes, a função do retalho alimentar de pequena dimensão corresponde a uma oferta incontornável e que não vai desaparecer tão cedo.
-  Intermarché está a perder terreno e, mesmo se ainda é a terceira força da distribuição, representa apenas metade de Pingo Doce e um terço de Continente, estando a aproximar-se de Minipreço. A perda de quota de mercado é um ponto extremamente penalizador porque tem consequências em termos de capacidade negocial, de nível de rappel e portanto de rentabilidade.
O que pode fazer Intermarché?
Para fazer funcionar as lojas é preciso favorecer o tráfego cliente, condição básica necessária. Assim, Intermarché deverá tornar-se mais visível em termos de comunicação e de envolvimento com o mercado, de maneira a marcar com mais força a sua presença;
O favorecimento do tráfego de clientes é da responsabilidade do grupo ao nível nacional mas também de cada loja, porque cada franquiado é responsavel pela sua ação local. Portanto, cada dono de loja deveria analisar a capacidade da sua loja em atrair os consumidores e analisar a sinalética de rua em termos de pertinençia e de aspeto, a imagem que a façada da loja projeta na rua, sabendo que uma façada degradada e envelhecida será um elemento altamente penalizador, os boatos sobre a loja, e os seus dirigentes, e os seus empregados, porque os boatos fazem ou desfazem a clientela.

Para fazer funcionar as lojas é preciso favorecer a compra, ou seja transformar os clientes em compradores a 100%, e para isso é preciso:
Ter uma loja com um layout articulado a partir de um circuito capaz de levar o cliente a entrar em contato com a maior parte, ver mesmo a totalidade da loja;
Ter cuidado com a legibilidade da oferta de maneira a facilitar a escolha do cliente;
Constituir o sortido que for mais adaptado às carateristicas locais, sabendo que no caso de Intermarché os seus dirigentes estão na primeira linha para tomar decisões ajustadas ao local;
Adaptar diariamente a loja à pressão da concorrência local;
Gerir os colaboradores, sabendo que também são consumidores e vetor de comunicação que pode ou não ser favorável ao Ponto de Venda;
Formar os seus colaboradores a uma maior tecnicidade, porque o momento atual de crise e de concorrência exacerbada exige competências técnicas.

Gráfico efetuado a partir de dados da Nielsen(YTD Agosto 2012)

RB

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Rui Nabeiro – Um percurso excecional de uma pessoa excecional

No decorrer da Convenção 2012 da rede “Aqui é Fresco”, que teve lugar nos dia 14 e 15 de Outubro passado, o Comendador Rui Nabeiro foi homenageado pelo seu percurso e contributo para a sociedade Portuguesa.
A intervenção que fez o Comendador Rui Nabeiro nesta ocasião vale muito pela clareza das suas ideias, pela força e pela energia que transmitiu a todas as pessoas presentes, num momento de grande agitação, de incerteza e de medo, causado pela crise económica e financeira mundial.
Pedi a autorização ao Comendador Rui Nabeiro para poder reproduzir neste “blog” a totalidade do conteúdo da sua intervenção, autorização que me concedeu com grande gentileza.
Por fim, gostava que os leitores retalhistas, grossistas, responsáveis do setor da produção, estudantes, difundissem este documento porque contém o positivismo que muitas vezes pode faltar a cada um de nós para acreditarmos em melhores dias, para nos esforçarmos e darmos o nosso contributo para a nossa comunidade. Obrigado Sr. Comendador!

Exmo. Sr. Presidente da Unimark – Sr. Carlos Pinho
Exmo. Sr. Director Geral da Unimark – Eng. João Vieira Lopes
Exmo. Sr. Coordenador do Projecto “Aqui é Fresco” - António Moreira
Restante organização do Evento
Exmos. Srs. Empresários e comerciantes aqui presentes
Minhas Senhoras e meus Senhores,
É com muita emoção que recebo esta homenagem.
Especialmente porque esta homenagem vem de pessoas que, como eu, se dedicam ao comércio e à indústria. Por isso, MUITO OBRIGADO.
Se me permitem, quero aproveitar estes minutos para vos transmitir algumas referências do que tem sido a minha vida, na expectativa de vos poder aportar alguma ajuda para podermos ultrapassar o momento que vivemos.
Como sabem, o sucesso ou fracasso das empresas ou organizações depende de uma boa ou má LIDERANÇA.
Mas…. NÃO É FÁCIL ASSUMIR A LIDERANÇA
- Ser líder implica tomar decisões
- Construir relações
- Influenciar as pessoas: motivar, inspirar, apoiar
- Reconhecer e compensar
- Dar o exemplo e fazer-se respeitar
E penso ter sido isso que consegui fazer desde que comecei a trabalhar.

A MINHA HISTÓRIA
Gostava de vos contar a minha história, o meu percurso, falar-vos das minhas motivações para continuar a caminhar.
Muito jovem iniciei esta tarefa que é o trabalho.
- INFÂNCIA
Nasci, como sabem, em Campo Maior, e sou oriundo de uma família de poucos recursos.
A vida não era fácil naquela altura e eu e os meus irmãos fomos obrigados a crescer muito depressa.
O tempo que as crianças e os jovens de hoje passam nas escolas, no meu caso, foi passado na mercearia da minha mãe, ajudando-a, levando e trazendo encomendas aos clientes.
O meu pai ganhava pouco e a mercearia era uma grande ajuda.
Posso dizer-vos que nasci, cresci e vivo para o comércio.
Hoje tenho a certeza que foi a mercearia da minha mãe que ditou a minha vocação de empresário.
- ADOLESCÊNCIA
Cresci… tornei-me num jovem com muita vontade de vencer na vida. Foi o sonho de criança, de melhorar as condições de vida da minha família, que alavancou o meu sucesso.
Cheio de energia, comecei a colaborar com os meus tios e pai, que tinham uma pequena torrefacção de café em Campo Maior.
Com o desaparecimento prematuro do meu pai, a situação familiar complicou-se.

Cedo assumi a gerência da torrefacção Camelo – há mais de 70 anos foi lançado o café Camelo no mercado espanhol… fomos pioneiros nas transacções inter-comunitárias
Os anos passaram e ainda hoje, a marca Camelo é uma referência nas províncias espanholas a Extremadura e Andaluzia
- CRIAÇÃO DELTA CAFÉS
Dei o grande passo – decidi criar uma empresa própria… foi há 51 anos
Um empresário tem de ter visão.
- INOVEI COM A CRIAÇÃO DA DELTA CAFÉS -
Tudo começou com apenas 3 colaboradores… hoje somos 3000 profissionais.
Sempre tive como primordial objectivo a aposta, permanente, na minha terra, nas suas gentes e na minha região.
- OS PRIMEIROS ANOS DA DELTA
Os primeiros tempos foram DIFÍCEIS.
A falta de meios próprios para assegurar a cobertura do mercado exigiram muito trabalho, método, disciplina e grandes doses de sentido de oportunidade.
Houve momentos decisivos.
Momentos em que foi necessário manter a frieza e o sentido prático para garantir o crescimento da DELTA.
VENDER ERA COMPLICADO. No início não conseguia vender 1 kg de café.
Mas a imaginação ajudou-me e comecei por vender as cevadas, que era o produto que o povo conseguia adquirir. E fui CONQUISTANDO o MERCADO.
Foram anos vividos com muita intensidade
- É NAS DIFICULDADES QUE O HOMEM SE MOSTRA A SI MESMO -
Dá-se o 25 de Abril. Portugal perde a grande influência que mantinha no comércio com as colónias. A matéria-prima que necessitávamos para trabalhar existia em Angola.

Mas a grande dificuldade era fazer chegar o café a Portugal.
Mais uma vez, com experiência acumulada e muita criatividade, atingimos esse objetivo.
Foi o TUDO ou NADA.
Fretei um navio e rumei a Luanda.
- OPTEI POR LEVAR TODO O CAFÉ PARA CAMPO MAIOR PARA SER TRANSFORMADO PELA DELTA -
Ganhei a aposta, valeu a pena assumir o risco.
A DELTA afirmou-se no mercado. Costumo dizer que a audácia favorece a sorte.
- ANOS 80
Na década de 80 a DELTA afirma-se no mercado português.
Do exterior chega também o reconhecimento que confirma o nosso sucesso. São também anos dedicados à certificação de qualidade nas mais diversas áreas.
- QUEBRAR FRONTEIRAS
Ligando o querer ao poder, o esforço à vontade e o trabalho à imaginação, conseguimos, ao longo dos anos, abrir portas e quebrar fronteiras.
- EXEMPLO DE ESPANHA
Sempre vi o mercado espanhol como o parceiro mais natural e direto para os meus negócios.
Pela proximidade, pela língua e pelo conhecimento que tenho dos hábitos e costumes do seu povo nas diferentes regiões.
Para além disso, sempre fizemos uma grande aposta, e essa aposta foi nas pessoas.
- HÁ MUITO QUE INVESTIMOS NAS PESSOAS
A nossa permanente afirmação social não nos deixou pensar no dinheiro, mas sim nas pessoas.

- NÓS OPTÁMOS PELAS PESSOAS. INVESTIMOS PELAS PESSOAS –
- O CLIENTE
Ao longo da minha vida de empresário sempre mostrei entusiasmo pelo trabalho.
Inovámos na forma de ver o cliente – UM CLIENTE UM AMIGO
O problema do cliente é também o nosso problema – são estas as linhas que ainda hoje nos orientam.
- MISSÃO DA EMPRESA
A nossa missão assenta na satisfação total e fidelização dos consumidores através de um modelo de negócio responsável acordado na criação e partilha de valor com as partes interessadas.
- VALORES DELTA
.Integridade
.Transparência
.Lealdade
.Qualidade
.Sustentabilidade
.Solidariedade
.Responsabilidade social e humildade
3. CRISE – o momento atual
Hoje vivemos momentos complicados. A crise que se vive no nosso país, na Europa e no Mundo, afeta-nos a todos – grandes e pequenos.

Todos os que aqui estamos hoje reunidos somos comerciantes, somos industriais, e todos vendemos e compramos produtos, e é aqui que está a mais valia do empresário
- é quando consegue assumir as duas posições.
Se soubermos reconhecer a parte do comprador e a parte do vendedor, conseguimos fazer negócios que interessem às duas partes.
Só assim conseguiremos contrariar este monstro que é a Crise e não só.
- Globalização dos Mercados
A crise é uma consequência da globalização do mercado.
Se refletirmos sobre o que vivemos hoje, percebemos que a crise não foi apenas um trabalho de Portugal, foi um trabalho da comunidade internacional, e especialmente da América, onde foi criada esta palavra, que todos achávamos muito bonita, e que é a
GLOBALIZAÇÃO.
De facto, a globalização é algo bom, mas era se ela fosse aplicada a todos, numa perspectiva de união.
Mas, esta globalização também nos trouxe o capitalismo, e um capitalismo que não tem rosto.
Porque há capitalismo de todas as formas, e este que surge pela globalização é um capitalismo sem rosto.
- Perdemos o sentimento do valor do dinheiro
É certo que nos deu uma vida boa, uma vida de sonho, uma vida de facilitismo e que agora nos veio trocar o passo.
4. Como combater? – Com Otimismo
Hoje estamos aqui para partilhar ideias e experiências, e para percebemos como podemos ultrapassar esta fase.
A resposta está no otimismo e não só.
- “SE NOS CONCENTRAMOS NAQUILO QUE TEMOS – FICAMOS AMARGURADOS” -
Esta frase indica-nos o caminho a seguir.

Temos que nos consciencializar que temos que viver os tempos de hoje de forma diferente ao que temos vivido até aqui.
O nosso pensamento tem que estar no trabalho. Porque este mundo não vai ser dos grandes! Vai ser de quem trabalha – vai ser de quem saiba distribuir.
E para distribuir há muitas formas e a melhor é distribuir trabalho.
5. DELTA NO MOMENTO ACTUAL
A nossa empresa já foi pequena. Hoje é grande, mas é grande com muita responsabilidade.
E quando digo que é grande, não estou a falar com nenhum espírito de grandeza, estou até a falar com um espírito de preocupação.
Eu não trabalho para mim, nem quem trabalha para mim trabalha para eles próprios, nós trabalhamos uns para os outros, e já somos 3000.
Mas para termos este número de colaboradores é necessário haver um pouco de justiça: nas vendas, nas compras. Para, de facto, podermos fazer um trabalho que nos dê segurança e futuro.
Por isso, a palavra da CRIATIVIDADE sempre esteve na minha atitude. Falar de INOVAÇÃO sempre foi também um lema da nossa empresa, e já hoje estamos a inovar.
Pois, com estas palavras, e com esta partilha de ideias, de certeza que nos irá ajudar a inovar no nosso e no vosso negócio.
Até porque aquilo que hoje falo já é diferente daquilo que diria há um ano atrás. A realidade é diferente.
Devemos olhar para traz, e refletir sobre o que fomos, o que aconteceu e seguir em frente, arranjando formas de dar a volta a esta situação.
E se olharmos para trás, e analisarmos outras décadas, percebemos que É POSSÍVEL.
Mas neste momento não devemos centrarmo-nos no passado.
Agora é necessário concentrarmo-nos no momento atual e pensar em soluções para podermos dar a volta a esta situação.
.Pensar em como podemos vencer.

.Pensar em como podemos continuar a dar respostas adequadas aos nossos clientes.
.Pensar em como os nossos clientes podem ter a mesma atitude para connosco.
Temos que ganhar a cultura do “FAZER BEM”, a cultura do TRABALHAR MELHOR, e essa é de facto a grande arma que nos ajudará a regenerar o nosso país, para um país de grande plano.
Temos que quebrar a fronteira do medo e fazer do nosso discurso um discurso positivo.
O nosso investimento tem de ser canalizado para nosso trabalho:
- Investindo nos fornecedores, nos clientes, nos amigos, estamos a investir nas pessoas que é onde realmente devemos investir.
É isto que tenho feito ao longo da minha vida de empresário.
De facto a minha história de vida funde-se com a história da DELTA – são as paixões que nos movem e eu trabalho com paixão.
- O QUE ME MOTIVA PARA CONTINUAR?
O gosto, o gozo pelo trabalho e tentar, cada vez mais, responder aos problemas da sociedade
Continuo a pensar - Continuo a criar - Continuo a agir
Termino agradecendo, mais uma vez, esta homenagem que me prestaram hoje.
Um Bem-haja a todos
Rui Nabeiro - 14 de Outubro 2012