De
vez em quando, quando o vazio apanha alguns “intelectuais” da distribuição, pensadores
incansáveis de ideias curtas, a ideia do desaparecimento do setor grossista
volta à superfície. Será uma realidade ou um mero desejo?
De
facto, o mercado português está a passar um mau bocado; isso não é novidade, todos
os portugueses sabem em que condições financeiras e económicas o país se
encontra. Do Norte ao Sul há empresas que fecham, incapazes de resistir à
dureza da crise, e empresas que veem diminuir a sua carteira de encomendas em
consequência da morosidade ambiente. Ao nível do comércio, assistimos a
acontecimentos paralelos, quer com o fecho de lojas - lembro que os dois supermercados
Leclerc de Portimão já fecharam e que foi anunciado o encerramento do
hipermercado Jumbo de Santarém - quer com a perda de faturação e de
rentabilidade que se constatam de forma generalizada no comércio. A notar que a
diminuição da faturação de uma loja pode ser a consequência de várias
situações: um aumento do número de lojas que obriga a uma concorrência feroz, a
perda de clientes, a transferência da opção de compra para os produtos de marca
de distribuição e de 1º preço, a queda do consumo.
Neste
contexto é fácil tentar estabelecer projeções baratas sobre um desaparecimento
do setor grossista, sobretudo aquele que não tiver uma rede de lojas
constituída, de comércio associado ou/e de comércio integrado. Mas isso não tem
em consideração o facto de que tudo o que nasce morrerá um dia, ou beneficiará
de mecanismos técnicos de adaptação que lhe permitirá alargar o seu tempo de
vida. Também
não tem em conta que para o desaparecimento do setor grossista seria preciso
que o retalho alimentar independente desaparecesse, e isso não é para amanhã.
O retalho alimentar independente é constituído por pessoas que exercem com
dignidade uma profissão dura, na qual a amplitude horária e a disponibilidade
são pontos de extremo relevo; são pessoas que sabem tomar riscos e aceitar os
riscos de ganhar ou de perder. Pessoas com estas características aparecem todos
os dias dispostas a lutar. Portanto sim, haverá morte, mas não haverá
desaparecimento porque o mercado é dinâmico. E, se não houver desaparecimento
do retalho independente, não haverá também desaparecimento dos grossistas;
provavelmente haverá adaptação a novos contextos. O caso da empresa Manuel
Nunes & Fernandes mostra que uma empresa grossista, mesmo com uma rede de
lojas associadas, com a insígnia GI, e uma rede de lojas integradas com a
insígnia SuperSol, pode desaparecer. No entanto, existem grossistas sem nenhuma
rede de lojas que conseguem prosseguir, mesmo com as dificuldades atuais,
porque procuram a maior e a melhor atividade comercial na zona de influência
das suas empresas. Os tempos são exigentes, exigem esforços, combatividade e
crença dos atores da distribuição num futuro de sucesso. Pessoalmente, não acredito no desaparecimento
dos hipermercados, para os quais George Chetochine, consultor da
distribuição de grande renome falecido em 2010, anunciava de forma polémica a
morte. Também não acredito na morte dos supermercados, nem dos hard-discounters,
nem do retalho alimentar de pequena dimensão e portanto nem dos grossistas, nem
no fim do comércio na Internet. Acredito sim que todas as fórmulas de comércio
vão coexistir, porque representarão um leque de soluções para os consumidores. Qualquer fórmula
comercial que trate de favorecer o ESCOAMENTO terá com certeza o seu lugar no
mercado da distribuição.
RB
Bem visto... há mercado para todos os formatos... certamente com o aparecimento de novos canais, o mix do escoamento obrigatoriamente será alterado e, com isso, alguns cairão porque o mercado não aumenta... Margens terão de se reduzir, alguns fecharão, outros aparecerão... mas é a dinâmica do mercado (e da vida, também)
ResponderEliminarAgradeço o teu comentário.RB
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